Escrito por Cristina Ruffino O sociólogo Zygmunt Bauman faz uma análise crítica uma da sociedade contemporânea e de suas influências nos relacionamentos, criando a
metáfora “amor líquido” para descrever os padrões de relacionamentos amorosos na sociedade atual. Para ele, a contemporaneidade vem transformando as relações, incluindo a relação amorosa. Segundo ele, o amor líquido é caracterizado pela fragilidade, pela falta de compromisso duradouro e pela busca constante por novas experiências e conexões. Os relacionamentos amorosos estão sendo permeados por ideias e expectativas de fragilidade e descartabilidade, ou seja, são frequentemente vistos como descartáveis e facilmente substituíveis. As pessoas lidam com as relações como mais fluidas e passageiras, sem depositar nela compromissos de longo prazo. Tratam assim a relação e consequentemente, a sentem como frágil, como se pudessem ser a qualquer momento serem substituídas (e substituir) por outras opções mais atraentes. Como o compromisso é frágil, o individualismo se torna preponderante. O foco é colocado nas necessidades e desejos individuais. Os relacionamentos são vistos como uma forma de satisfação pessoal e autodescoberta. Isso pode levar a uma mentalidade de busca constante pela pessoa perfeita, em vez de investir em construir relações sólidas e duradouras. Se o foco está em si e não no relacionamento, as pessoas têm dificuldade em estabelecer intimidade emocional profunda e duradoura. A ideia de compromisso a longo prazo pode parecer restritiva, sufocante, limitadora. Ao mesmo tempo em que aumenta a autonomia dentro dos relacionamentos (o que pode trazer benefícios), também aumenta a sensação de insegurança e ansiedade, já que há falta de compromisso, gerando a sensação de instabilidade e inquietação emocional. As formas de se relacionar não existem fora de uma cultura situada no tempo e no espaço, ou seja, com história e geografia definidas. Se estamos em uma cultura do consumo e do descarte, as relações tendem a traduzir e refletir essa mentalidade. As pessoas são incentivadas a buscar a satisfação imediata de seus desejos e os relacionamentos são vistos como produtos a serem consumidos e descartados quando não atenderem mais às expectativas. Relacionamentos são feitos pelas pessoas que os habitam. Portanto, são construídos pelo par (ou pares, no caso de poliamor) que estão envolvidos. A pergunta que se pode fazer é: é a esse tipo de relacionamento que eu desejo me dedicar? Se não é esse, como posso construir algo diferente a partir das minhas ações? Que conversas proponho? O que de mim ofereço? Os comentários estão fechados.
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Cristina RuffinoSou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. Arquivos
Dezembro 2024
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