Escrito por Cristina Ruffino Daniel Siegel, psiquiatra e neurocientista especialista no desenvolvimento dos processos neurobiológicos, destaca alguns pontos fundamentais quando consideramos o desenvolvimento da criança:
O convite é repensar a importância desses fatores na promoção de um crescimento cerebral ótimo, ressaltando a necessidade de um ambiente rico, seguro e afetivamente envolvente para assegurar um desenvolvimento saudável e integral das crianças.
Se passearmos pelas publicações referentes ao tema ou pelos conselhos de “especialistas” (o que é ser especialista quando se trata de relações humanas?!!), vamos encontrar muitas sugestões e conselhos. Eu particularmente, trabalhando com casais há 2 décadas, não tenho nenhum conselho, mas tenho curiosidades: o que uniu o casal? Quais foram os valores que os aproximaram? O que cada um vislumbrava da vida a dois que em algum momento considerou que o outro tinha a oferecer? Quais foram os desafios com os quais lidaram bem? De que forma cada um deles contribuiu?
Na medida em que eu puder conhecê-los e eles se reconhecerem, construimos o caminho para ouvirmos o que foi mudando em cada um e o que mudou no relacionamento? Quem foi percebendo? De que forma percebeu? Que nome foi dando para “aquilo” que viu como mudança/ chatice/ desconexão/ prisão, ou seja lá que nome vier? Isso assustou? Surpreendeu? O que fez com essa percepção? Teve vontade de dividir com o outro? Se não o fez, sabe o que levou a não fazer? Se alguém não percebeu, soube que o outro percebia? O que fez com isso? O que ajudou o relacionamento a fazer com isso? Percebia outra coisa neste período? Como era? Com quem compartilhava? Com isso nos aproximamos da traição, que pode ou não se tornar uma tema da conversa, trazendo conosco quem somos (fomos?) ao longo da relação. Assim, não ouviremos de forma solitária, descontextualizada. As escutas se tornam diferentes? Na minha experiência, sim. Enfim, a traição pode ser uma oportunidade de explorar e revisitar os movimentos de mudanças na vida de cada um e do casal, que muitas vezes passaram despercebidos. Uma oportunidade para se reconectar consigo e com o relacionamento distinguindo se há necessidades não atendidas e quais são elas. Tanto de cada um, quanto do relacionamento. Na traição nem sempre é apenas sexo que está em jogo. Pode ser a busca de conexão, de emoção, de autonomia, de angústias indistintas. Como podemos passar a distingui-las daqui para frente? Se o casal resolver seguir juntos – e, na minha experiência, muitos decidem – então também precisaremos explorar a sexualidade e a intimidade. Precisaremos olhar juntos para as crenças e suposições antigas: o que pensavam já saber do outro e de si mesmo. Que saberes precisaremos/ desejaremos atualizar? Não é fácil conversar sobre estas coisas, mas se eles chegam na terapia e desejam seguir em frente, estaremos juntos e meu papel será ajuda-los a se ouvirem, a expressarem suas emoções, receios, mágoas e preocupações de forma sincera e respeitosa. Muitas vezes, o casal esteve junto há 10, 20, 30 anos e nunca exercitou conversas onde a comunicação autêntica e o respeito estiveram juntos – ou seja, posso dizer tudo, mas não de qualquer jeito. Como podemos olhar para isso de forma segura? Que novos acordos são necessários? Quais outras narrativas sobre o que é possível, desejável, bom na vida sexual serão possíveis? Quais narrativas contribuirão para construírem uma intimidade e conexão emocional onde caiba os dois? Isso tudo se aplica apenas a possíveis imaginárias com um casal hipotético, já que na vida real, cada casal é único e cada conversa, inédita e inacabada de uma maneira única. Escrito por Cristina Ruffino No livro "Transformação da Intimidade: Sexualidade, Amor e Erotismo nas Sociedades Modernas", Anthony Giddens discute as mudanças na esfera íntima das relações humanas, especialmente em relação à sexualidade, amor e erotismo, decorrentes das transformações sociais e culturais da modernidade tardia.
Giddens argumenta que, na sociedade moderna, houve uma separação da sexualidade do contexto estritamente reprodutivo, o sexo tornou-se cada vez mais relacionado a prazer, satisfação pessoal, intimidade, conexão, curiosidade, domínio, do que a ideia de filhos. Ao mesmo tempo, com as famílias se tornando menores, e a coabitação mais restrita, há uma importância crescente das relações emocionais entre o casal. As relações íntimas baseadas no amor e na emoção tornaram-se centrais, substituindo em certa medida as relações tradicionais e institucionalizadas, como o casamento arranjado ou a companhia fraterna e de toda a família estendida. Sem um julgamento de valor se é melhor ou pior, simplesmente é. A pergunta é como queremos lidar com isso? Que consequências tem para o mundo no qual vivemos fazermos uma escolha ou outra? As mudanças nas identidades sexuais e de gênero nas sociedades modernas também contribuem para transformação do que antes se dava como certo em termos de intimidade. A crescente aceitação e reconhecimento das diferentes identidades sexuais e de gênero, o desafio às normas tradicionais de masculinidade e feminilidade, o questionamento da monogamia como certa e necessária, tudo isso nos convida a revisitar nossas crenças. Como a cultura atual reforça a ideia de individualização das escolhas e práticas sexuais, as pessoas são encorajadas a buscar satisfação individual e a construir sua própria identidade sexual, longe das restrições sociais e morais do passado. Isso, certamente, nos convida a olhar para o relacionamento como algo vivo e como tal, dar importância ao gerenciamento do risco nas relações, já que um papel não as garante mais. Aumenta a consciência da necessidade de construir confiança em seus relacionamentos e lidar com a incerteza e os riscos emocionais envolvidos. Isso é libertador em certo sentido para alguns e angustiante para outros, ou para a mesma pessoa pode ser as duas coisas em diferentes momentos. De que forma as ideias de Giddens nos ajudam a olhar para os casais atuais? O que se torna cada vez mais relevante ser desenvolvido e implementado nos relacionamentos? Creio que podemos destacar:
Claro que cada relacionamento é único, e é importante adaptar essas ideias de acordo com as circunstâncias específicas e as necessidades individuais de cada casal. A comunicação aberta, a empatia e o compromisso são elementos-chave na promoção da saúde do relacionamento. Escrito por Cristina Ruffino O termo ghosting tem sido usado quando uma pessoa desaparece abruptamente e sem explicação de um relacionamento, como um “fantasma”. Claro que não é um comportamento novo. É um comportamento que aparece sobretudo em relacionamentos afetivos ou de amizade.
Imagine que você vem conversando ou saindo com alguém e de repente essa pessoa simplesmente desaparece sem dar qualquer explicação. Ela para de responder suas mensagens, não atende suas ligações e não dá nenhum sinal de vida. Você fica confuso, sem entender o que aconteceu e por que essa pessoa decidiu simplesmente se afastar sem aviso prévio. Para algumas pessoas o ghosting produz um impacto emocional negativo, levando a pessoa que está sendo "ignorada" a pensar que foi a responsável, que aquilo é fruto de sua inadequação, falta de atrativos ou inabilidades. A ausência de uma explicação ou de um encerramento adequado pode deixar a pessoa que foi "ghosteada" sem respostas e sem a chance de expressar seus sentimentos ou buscar algum tipo de entendimento. Muitas vezes a pessoa se sente culpada e confusa por algo que, na verdade, diz mais de quem pratica o ghosting do que de quem o recebe. É importante destacar que o ghosting não é uma prática saudável nem ética nas relações interpessoais. É uma forma de evitar uma conversa direta e/ou a responsabilidade emocional, deixando a outra pessoa no escuro e sem qualquer chance de diálogo ou resolução. Se você se encontra em uma situação em que tenha sido "ghosteado", é importante cuidar de si mesmo, buscar apoio emocional em amigos e familiares e tentar seguir em frente, mesmo sem respostas claras – mesmo porque, que clareza imagina que poderia te oferecer aquele que se faz de fantasma? A inadequação, a imaturidade, a incapacidade é de quem sumiu, não sua. Escrito por Cristina Ruffino No livro Self Comes to Mind: Constructing the Conscious Mind, António Damásio, neurocientista da Universidade da Califórnia, aborda o tema da consciência e a formação do eu consciente. Alguns dos aspectos abordados que são instigantes, são:
1. A importância da narrativa pessoal: O autor destaca a importância das histórias que contamos a nós mesmos sobre nossas vidas na construção do eu consciente. Ele explora como a narrativa pessoal é fundamental para a nossa identidade e como molda nossa compreensão do mundo. 2. A relação entre mente e corpo: Damásio destaca como as experiências físicas e emocionais influenciam a construção da consciência, onde mente e corpo formam um todo integrado. 3. A importância das emoções: Enfatiza o papel central das emoções na construção da consciência. Ele descreve como as emoções surgem a partir das respostas automáticas do organismo a estímulos, e como essas respostas influenciam a tomada de decisões e a formação do senso de self. Há uma distinção entre emoção (neurofisiológicas) e sentimentos (permeadas pelo contexto cultural e os sentidos atribuídos pelo meio) que vale a pena observar. 4. O papel do cérebro na consciência: Damásio explora as complexidades do cérebro e sua relação com a consciência, bem como da influência da neuroquímica na percepção de si e do entorno. Ele discute como a integração de diferentes regiões cerebrais é essencial para a formação da experiência consciente. 5. A evolução da consciência: Investiga a evolução da consciência ao longo da história humana e como ela está relacionada à nossa capacidade de construir modelos mentais e antecipar o futuro. Ele discute como a consciência evoluiu como uma adaptação que nos permite agir de maneira mais flexível e adaptativa no mundo. |
Cristina RuffinoSou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. Arquivos
Dezembro 2025
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