Por Cristina Ruffino. Conversando com casais sobre suas diferenças e similaridades e como isso vem impactando o dia a dia da relação, vejo que muitas vezes estas percepções não se atualizam, eles se referem a diferenças e/ou similaridades de um tempo passado. Assim como, não se atualizam sobre o que cada um faz/pode fazer para ajudar o outro a se sentir melhor na relação considerando as diferenças.
Em geral eles/elas sabem quais são os resultados das ações d@ outr@ que não @s agrada, mas pouco sabem do que fazem que desagrada @ outr@ ou o que gostariam de pedir @ outr@ para se sentirem ajudad@s em um processo de convivência saudável. Algumas perguntas que costumam nos ajudar a refletir e conversar:
Você tem refletido sobre isso?
0 Comentários
Por Cristina Ruffino. Há uma diferença grande entre fazer uma queixa ou fazer um pedido. O posicionamento em que coloco @ outr@ quando eu me queixo del@ e onde me coloco é totalmente diferente, ainda que eu não tenha a intenção. Quando me queixo, @ posicion@ como:
O que conseguimos com queixas é a reação de defesa d@ outr@, porque, provavelmente el@ se sentirá atacad@ /criticad@ /julgad@. Além disto, a queixa fala do passado: o que @ outr@ fez / não fez. E não diz nada sobre o que eu desejo para o futuro. Se eu transformo a queixa em um pedido, identificando o que eu quero que aconteça, pelo que e colocando para @ outr@ isso de forma afirmativa, ou seja, ao invés de falar o que @ outr@ não fez, diga o que você gostaria que @ outr@ fizesse para ser bom para ambos. Exemplo: Ao invés de:
Com o pedido, eu posiciono @ outr@ como alguém que pode me compreender e que eu acredito que colaborará se puder. Ou seja, pedindo eu demonstro confiança n@ outr@ e na relação. Se @ outr@ não for poder me atender por algum motivo, el@ poderá me dizer. Ao fazer um pedido (e não uma queixa) eu também estarei focando no problema e não na pessoa. Veja a diferença:
Gostaria de observar se frente aos seus descontentamentos você tem levado para @ outr@ suas queixas ou seus pedidos? Obs. Nem sempre você conseguirá, tudo bem, você está em processo. Não desista só porque cometeu erros ou porque vê @ outr@ cometendo. Assuma que estão aprendendo e que haverá deslizes para velhos padrões. Observe, reconheça, respire e tente de novo. Lembre-se que não é pel@ outr@, é por você. Você merece conversas mais leves e mais produtivas. Se ofereça isso. Mãe e Pai ...
1 - Nunca esqueçam: eu sou a criança de vocês dois. Agora, só tenho um pai ou uma mãe com quem eu moro e que me dedica mais tempo. Mas preciso também do outro. 2 - Não me perguntem se eu gosto mais de um ou do outro. Eu gosto de “igual”modo dos dois. Então não critique o outro na minha frente, porque isso dói. 3 - Ajudem-me a manter o contato com aquele com quem não fico sempre. Marque o seu número de telefone para mim, ou escreva-me o seu endereço num envelope. Ajudem-me, no Natal ou no seu aniversário, para poder preparar um presente para o outro. Das minhas fotos, façam sempre uma cópia para o outro. 4 - Conversem como adultos. Mas conversem. E não me usem como mensageiro entre vocês - ainda menos para recados que deixarão o outro triste ou furioso. 5 - Não fiquem tristes quando eu estiver com o outro. Aquele que eu deixo não precisa pensar que não vou mais amá-lo daqui há alguns dias. Eu preferia sempre ficar com vocês dois. Mas não posso dividir-me em dois pedaços - só porque vocês se separaram. 6 - Nunca me privem do tempo que me pertence com o outro. Uma parte de meu tempo é para mim e para a minha Mãe; uma parte de meu tempo é para mim e para o meu Pai. Sejam consequentes aqui. 7 - Não fiquem surpreendidos nem chateados quando eu estiver com o outro e não der noticias. Agora tenho duas casas. E preciso distingui-las bem - senão não sei mais onde fico. 8 - Não me passem ao outro, na porta da casa, como um pacote. Conversem como vocês podem ajudar a facilitar a minha vida. Quando vierem me buscar ou levar de volta, deixe que eu perceba que podem conversar e se respeitar. 9 - Se vocês não puderem suportar o olhar do outro, combinem de me buscarem na casa de avós, na escola ou na casa de amigos. 10 - Não briguem na minha frente. Sejam, ao menos, tão educados entre vocês quanto seriam com outras pessoas, como vocês também exigem de mim. 11 - Não me contem coisas que ainda não posso entender. Conversem sobre isso com outros adultos, mas não comigo. 12 - Deixem-me levar os meus amigos na casa de cada um. Eu desejo que eles possam conhecer a minha Mãe e o meu Pai e achá-los simpáticos. 13 - Concordem sobre o dinheiro. Não desejo que um tenha muito e o outro muito pouco. Tem de ser bom para os dois, assim poderei ficar à vontade com os dois. 14 - Não tentem "comprar-me". De qualquer forma, não consigo “comer todo o chocolate” que eu gostaria. 15 - Falem-me francamente quando não dá para "fechar o orçamento". Para mim, o tempo é bem mais importante que o dinheiro. Divirto-me bem mais com um brinquedo simples e engraçado que com um novo brinquedo. 16 - Não sejam sempre "ativos" comigo. Não tem de ser sempre alguma coisa agitada ou nova quando vocês fazem alguma coisa comigo. Para mim, o melhor é quando somos simplesmente felizes para brincar e que tenhamos um pouco de calma. 17 - Deixem o máximo de coisas idênticas na minha vida, como estava antes da separação. Comecem com o meu quarto, depois com as pequenas coisas que eu fazia sozinho com meu Pai ou com minha Mãe. 18 - Sejam amáveis com os meus outros avós - mesmo que, na sua separação, eles tenham ficado mais do lado do seu próprio filho. Vocês também ficariam do meu lado se eu estivesse com problemas! Não quero perder ainda os meus avós. 19 - Sejam gentis com o novo parceiro que o outro encontrará ou já encontrou. Preciso também me entender com essas outras pessoas. Prefiro quando vocês não se vêem com ciúme. Para mim, será bom quando vocês dois encontrarem alguém que possam amar. Vocês ficariam mais felizes e não ficariam tão chateados um com o outro. 20 - Sejam otimistas. Vocês não conseguiram gerir o casamento de vocês - mas tudo poderá ficar bem novamente. Releiam todos os meus pedidos. Talvez vocês conversem sobre eles. Mas não briguem. Não usem os meus pedidos para censurar o outro, atacando-o pela forma com que fez comigo. Se vocês o fizerem, vocês não terão entendido como eu me sinto e o que preciso para ser feliz. Fonte - Tribunal de Família e Menores de Cochem-Zell/Alemanha Escrito por Cristina Ruffino.
John Gottman é um grande estudioso de relacionamentos amorosos heterossexuais. Ele foi quem chegou a uma razão de 5/1 para o equilíbrio entre interações positivas e negativas em relacionamentos estáveis e felizes (seja lá o que quer dizer "felizes"!!). De acordo com suas pesquisas, para cada interação negativa, deve haver pelo menos cinco interações positivas. Isso significa que as expressões de afeto, atenção e apoio devem superar significativamente os momentos de tensão e desacordo para manter um relacionamento saudável. Ele também formulou os "Sete Princípios para Fazer o Casamento Funcionar", quais sejam: 1. Aprimorar o mapa amoroso: que se refere a cada um ter interesse e buscar conhecer detalhes da vida do seu parceiro, desde os fatos básicos de sua história até seus sonhos atuais, preocupações e esperanças para o futuro. Buscar conhecer o que seu/sua parceiro(a) gosta, o que não gosta, as histórias da infância dele(a), o que ele(a) quer para o futuro... tudo! Quando estamos enamorados fazemos isso de forma natural, podemos ficar horas ouvindo o outro. O que será que no decorrer da relação nos faz pensar que já conhecemos? Como podemos (re)adquirir e trazer para a relação a curiosidade inicial. 2. Nutrir a afeição e a admiração: ou seja, cultivar o respeito e a apreciação pelo seu(sua) parceiro(a), vendo-o de uma maneira positiva em vez de se concentrar nos defeitos. Em outras palavras, "ser fã número um do(a) seu(sua) parceiro(a)". É como ser torcedor convicto de um time, mesmo quando o nosso time joga com outro muito mais forte, não deixamos de estar presente, torcendo, vibrando e dando apoio. Olhe para o seu amor e relembre as características que te encantaram, elas ainda estão presentes, diga isso a ele(a). 3. Voltar-se um para o outro: que em ações significa responder positivamente aos pedidos de atenção, afeto e apoio do(a) seu parceiro(a), em vez de se afastar ou responder negativamente e com intolerância. 4. Deixar-se influenciar: ter uma atitude aberta para as ideias e sentimentos do seu parceiro e estar disposto a comprometer-se e aceitar a influência deles. Uma metáfora boa para isso é "sejam um time", tem horas que ele(a) te passa a bola para você fazer o gol e tem horas que você pode passar para ele(a) chutar para o gol. Qualquer um dos dois podem errar, mas estarão juntos para lidar com a vitória ou a derrota. 5. Resolver os problemas solucionáveis: aprender a diferenciar a qualidade dos problemas, bem como, identificar os problemas que podem ser resolvidos por vocês, além de desenvolver as habilidades para lidar com eles de maneira eficaz. Existem problemas que não são solucionáveis com os recursos de vocês naquele momento, é possível ficar bem com isso? 6. Superar o impasse, ou "aprender a dançar na chuva": que se refere a adotar uma abordagem construtiva para lidar com problemas perenes ou recorrentes, e aprender a dialogar sobre eles com respeito. Se tem algo que sempre vira briga e vocês não encontraram uma forma de mudar, pode ser melhor aprender a lidar com isso do que ficar batendo cabeça. Não é ignorar, mas sim encontrar um jeito de conviver com essas diferenças. 7. Criar um significado compartilhado: desenvolver um entendimento mútuo dos valores e rituais de conexão que constituem a visão do casal para o futuro e a vida que desejam construir juntos. Pode ser desde planejar uma viagem juntos até construir sonhos e planos do que querem realizar como casal. Criar rituais simples do dia a dia é uma forma de unir o casal e dá um sentido maior para estarem juntos. No fundo, estes princípios de Gottman são sobre o casal se conhecer profundamente, mostrar respeito e admiração, estar presente e responder às necessidades do parceiro, trabalhar juntos, resolver o que é possível, aprender a aceitar o que não pode ser mudado, e criar uma vida juntos com significado e propósito compartilhados. Nenhum é novidade, mas é sempre bom nos lembrar, não é? Escrito por Cristina Ruffino.
O desafio dos relacionamentos à distância é uma experiência complexa e emocionalmente intensa, é uma dança delicada de amor, paciência e tecnologia, onde espera-se que os corações se encontrem, ainda que separados por milhas. Em um mundo cada vez mais globalizado e conectado, os casais se encontram navegando nas águas turvas da distância, onde a proximidade física dá lugar a uma conexão digital. O relacionamento à distância, exige que os envolvidos possam manter um vínculo emocional e confiança mútua, apesar da separação física. A comunicação constante através de tecnologias digitais como mensagens, chamadas de vídeo e e-mails desempenha um papel crucial, atuando como uma ponte que os une. Contudo, essa separação pode trazer desafios adicionais, como a sensação de solidão que um dos parceiros pode experimentar. Este sentimento de solidão pode intensificar as inseguranças e criar mal-entendidos, tornando a comunicação e a confiança ainda mais fundamentais. Encontros presenciais são momentos preciosos e intensos, valorizados por ambos, enquanto a distância física pode também promover um crescimento pessoal e independência. Quando há filhos envolvidos, aquele que fica com os filhos a maior parte do tempo pode se sentir sobrecarregado e sem ter com quem dividir os cuidados diários, trazendo para a relação cobranças e queixas. Apesar dos desafios, como a solidão e a saudade, relacionamentos à distância podem fortalecer os laços emocionais e demonstrar a resiliência do amor, ou, ao contrário, podem levar o casal a questionar se vale a pena estar junto. Neste caso, conversas francas precisam ser feitas. Escrito por Cristina Ruffino.
Aprendo com meus clientes sobre o que ganha significado para eles e quais as formas que eles vão encontrando para dar sentido às suas experiências. Isso vem em forma dos livros que leram, dos influencers que seguem, do que recortaram dos jornais, das séries... enfim, vêm da vida e eles dividem comigo na medida em que me deixam conhecer. Nesta última semana, 3 casais fizeram referência aos conceitos do Gary Chapman no livro "As Cinco Linguagens do Amor". Um dos casais me explicando por que não se entendiam: "ela é muito atos de serviço, eu sou toque físico", ou "eu já falei para ele que eu só me sinto amada com palavras de afirmação e ele insiste em me oferecer presentes, devolvo todos". É interessante ouvi-los e independe do meu entendimento destes conceitos, mais do que do livro, eles vão me falando deles e dos entendimentos que constroem. Neste livro, Chapman propõe que existem cinco maneiras pelas quais as pessoas expressam e recebem amor. Segundo ele, essas linguagens são ferramentas essenciais para melhorar a comunicação e fortalecer os relacionamentos. E assim as descreve: 1. Palavras de Afirmação: nesta linguagem a pessoa expressa seu amor através de palavras carinhosas, elogios, cartas e bilhetes. Para pessoas que valorizam palavras de afirmação, ouvir "eu te amo" é extremamente poderoso e significativo. 2. Tempo de Qualidade: os que compartilham desta linguagem, dão atenção plena àquele que amam. Isso significa dedicar tempo ao outro, seja através de conversas profundas, passeios juntos, ou simplesmente estar presente sem as distrações de dispositivos eletrônicos ou outras tarefas. 3. Presentes: para esse grupo, o que melhor expressa amor são os presentes pensados e escolhidos para a pessoa amada. Não importa se são coisas caras ou raras, mas a lembrança, esforço e cuidado ao escolher algo que possa agradar. Para quem se comunica desta forma, um presente simboliza que a pessoa foi lembrada e valorizada. 4. Atos de Serviço: Realizar ações em benefício da outra pessoa, como preparar o almoço, cuidar da casa ou do jardim pensando em alegrar o outro. Fazer pelo outro algo que o outro faria ou gostaria de ver feito. 5. Toque Físico: Nesta linguagem, o contato físico é uma demonstração direta de amor e carinho. Beijos, toques, mãos dadas, carícias, tudo isso expressa calor, segurança e amor de forma muito direta para quem valoriza essa linguagem. Não gosto de tipificações, creio que somos mais do que isso, mas saber que para algumas pessoas essa forma de apresentação das diferenças e das possibilidades do amor as ajudam a entender a si e a seus parceiros, se torna uma metáfora que nos abre portas no diálogo, e isso importa.
Se passearmos pelas publicações referentes ao tema ou pelos conselhos de “especialistas” (o que é ser especialista quando se trata de relações humanas?!!), vamos encontrar muitas sugestões e conselhos. Eu particularmente, trabalhando com casais há 2 décadas, não tenho nenhum conselho, mas tenho curiosidades: o que uniu o casal? Quais foram os valores que os aproximaram? O que cada um vislumbrava da vida a dois que em algum momento considerou que o outro tinha a oferecer? Quais foram os desafios com os quais lidaram bem? De que forma cada um deles contribuiu?
Na medida em que eu puder conhecê-los e eles se reconhecerem, construimos o caminho para ouvirmos o que foi mudando em cada um e o que mudou no relacionamento? Quem foi percebendo? De que forma percebeu? Que nome foi dando para “aquilo” que viu como mudança/ chatice/ desconexão/ prisão, ou seja lá que nome vier? Isso assustou? Surpreendeu? O que fez com essa percepção? Teve vontade de dividir com o outro? Se não o fez, sabe o que levou a não fazer? Se alguém não percebeu, soube que o outro percebia? O que fez com isso? O que ajudou o relacionamento a fazer com isso? Percebia outra coisa neste período? Como era? Com quem compartilhava? Com isso nos aproximamos da traição, que pode ou não se tornar uma tema da conversa, trazendo conosco quem somos (fomos?) ao longo da relação. Assim, não ouviremos de forma solitária, descontextualizada. As escutas se tornam diferentes? Na minha experiência, sim. Enfim, a traição pode ser uma oportunidade de explorar e revisitar os movimentos de mudanças na vida de cada um e do casal, que muitas vezes passaram despercebidos. Uma oportunidade para se reconectar consigo e com o relacionamento distinguindo se há necessidades não atendidas e quais são elas. Tanto de cada um, quanto do relacionamento. Na traição nem sempre é apenas sexo que está em jogo. Pode ser a busca de conexão, de emoção, de autonomia, de angústias indistintas. Como podemos passar a distingui-las daqui para frente? Se o casal resolver seguir juntos – e, na minha experiência, muitos decidem – então também precisaremos explorar a sexualidade e a intimidade. Precisaremos olhar juntos para as crenças e suposições antigas: o que pensavam já saber do outro e de si mesmo. Que saberes precisaremos/ desejaremos atualizar? Não é fácil conversar sobre estas coisas, mas se eles chegam na terapia e desejam seguir em frente, estaremos juntos e meu papel será ajuda-los a se ouvirem, a expressarem suas emoções, receios, mágoas e preocupações de forma sincera e respeitosa. Muitas vezes, o casal esteve junto há 10, 20, 30 anos e nunca exercitou conversas onde a comunicação autêntica e o respeito estiveram juntos – ou seja, posso dizer tudo, mas não de qualquer jeito. Como podemos olhar para isso de forma segura? Que novos acordos são necessários? Quais outras narrativas sobre o que é possível, desejável, bom na vida sexual serão possíveis? Quais narrativas contribuirão para construírem uma intimidade e conexão emocional onde caiba os dois? Isso tudo se aplica apenas a possíveis imaginárias com um casal hipotético, já que na vida real, cada casal é único e cada conversa, inédita e inacabada de uma maneira única. Escrito por Cristina Ruffino No livro "Transformação da Intimidade: Sexualidade, Amor e Erotismo nas Sociedades Modernas", Anthony Giddens discute as mudanças na esfera íntima das relações humanas, especialmente em relação à sexualidade, amor e erotismo, decorrentes das transformações sociais e culturais da modernidade tardia.
Giddens argumenta que, na sociedade moderna, houve uma separação da sexualidade do contexto estritamente reprodutivo, o sexo tornou-se cada vez mais relacionado a prazer, satisfação pessoal, intimidade, conexão, curiosidade, domínio, do que a ideia de filhos. Ao mesmo tempo, com as famílias se tornando menores, e a coabitação mais restrita, há uma importância crescente das relações emocionais entre o casal. As relações íntimas baseadas no amor e na emoção tornaram-se centrais, substituindo em certa medida as relações tradicionais e institucionalizadas, como o casamento arranjado ou a companhia fraterna e de toda a família estendida. Sem um julgamento de valor se é melhor ou pior, simplesmente é. A pergunta é como queremos lidar com isso? Que consequências tem para o mundo no qual vivemos fazermos uma escolha ou outra? As mudanças nas identidades sexuais e de gênero nas sociedades modernas também contribuem para transformação do que antes se dava como certo em termos de intimidade. A crescente aceitação e reconhecimento das diferentes identidades sexuais e de gênero, o desafio às normas tradicionais de masculinidade e feminilidade, o questionamento da monogamia como certa e necessária, tudo isso nos convida a revisitar nossas crenças. Como a cultura atual reforça a ideia de individualização das escolhas e práticas sexuais, as pessoas são encorajadas a buscar satisfação individual e a construir sua própria identidade sexual, longe das restrições sociais e morais do passado. Isso, certamente, nos convida a olhar para o relacionamento como algo vivo e como tal, dar importância ao gerenciamento do risco nas relações, já que um papel não as garante mais. Aumenta a consciência da necessidade de construir confiança em seus relacionamentos e lidar com a incerteza e os riscos emocionais envolvidos. Isso é libertador em certo sentido para alguns e angustiante para outros, ou para a mesma pessoa pode ser as duas coisas em diferentes momentos. De que forma as ideias de Giddens nos ajudam a olhar para os casais atuais? O que se torna cada vez mais relevante ser desenvolvido e implementado nos relacionamentos? Creio que podemos destacar:
Claro que cada relacionamento é único, e é importante adaptar essas ideias de acordo com as circunstâncias específicas e as necessidades individuais de cada casal. A comunicação aberta, a empatia e o compromisso são elementos-chave na promoção da saúde do relacionamento. Escrito por Cristina Ruffino O termo ghosting tem sido usado quando uma pessoa desaparece abruptamente e sem explicação de um relacionamento, como um “fantasma”. Claro que não é um comportamento novo. É um comportamento que aparece sobretudo em relacionamentos afetivos ou de amizade.
Imagine que você vem conversando ou saindo com alguém e de repente essa pessoa simplesmente desaparece sem dar qualquer explicação. Ela para de responder suas mensagens, não atende suas ligações e não dá nenhum sinal de vida. Você fica confuso, sem entender o que aconteceu e por que essa pessoa decidiu simplesmente se afastar sem aviso prévio. Para algumas pessoas o ghosting produz um impacto emocional negativo, levando a pessoa que está sendo "ignorada" a pensar que foi a responsável, que aquilo é fruto de sua inadequação, falta de atrativos ou inabilidades. A ausência de uma explicação ou de um encerramento adequado pode deixar a pessoa que foi "ghosteada" sem respostas e sem a chance de expressar seus sentimentos ou buscar algum tipo de entendimento. Muitas vezes a pessoa se sente culpada e confusa por algo que, na verdade, diz mais de quem pratica o ghosting do que de quem o recebe. É importante destacar que o ghosting não é uma prática saudável nem ética nas relações interpessoais. É uma forma de evitar uma conversa direta e/ou a responsabilidade emocional, deixando a outra pessoa no escuro e sem qualquer chance de diálogo ou resolução. Se você se encontra em uma situação em que tenha sido "ghosteado", é importante cuidar de si mesmo, buscar apoio emocional em amigos e familiares e tentar seguir em frente, mesmo sem respostas claras – mesmo porque, que clareza imagina que poderia te oferecer aquele que se faz de fantasma? A inadequação, a imaturidade, a incapacidade é de quem sumiu, não sua. Escrito por Cristina Ruffino Os clientes vão fazendo referência, perguntando, trazendo nomes e definições do que ouvem, leem e assistem.
Firedooring é um termo recente que surgiu no contexto dos relacionamentos e se refere a um padrão comportamental em que uma pessoa mantém controle e poder na relação, mantendo o outro indivíduo como uma opção disponível apenas quando lhe convém. É como se essa pessoa mantivesse o outro "na porta dos fundos", disponível apenas para momentos de conveniência ou interesse pessoal, enquanto não oferece um compromisso real ou reciprocidade emocional. O termo "firedooring" faz uma analogia à porta corta-fogo (fire door, em inglês), que é mantida fechada e só é aberta em caso de emergência. Da mesma forma, a pessoa que pratica o firedooring mantém o outro à margem da relação, sem oferecer um envolvimento emocional pleno ou compromisso genuíno. Esse padrão comportamental pode se manifestar de diferentes maneiras, como por exemplo:
Esse comportamento pode ser prejudicial para a pessoa que está sendo "firedoorada", causando confusão, insegurança emocional e um sentimento de desvalorização. O firedooring pode gerar um ciclo vicioso em que a pessoa que sofre com esse comportamento fica presa em uma relação desigual, buscando constantemente a aprovação e atenção do outro, enquanto tem suas necessidades e sentimentos ignorados. Colocado desta forma como apresentei (que é a forma como vem sendo tratado na literatura e pelos profissionais que lidam com relacionamentos amorosos), fica parecendo que tem uma pessoa que é o firedooring e uma que é da firedoorada, ou seja, que a característica está na pessoa. É importante salientar aqui, que não se trata de algo que alguém é, se trata de uma forma como a relação (aquela relação) foi construída e vem funcionando. Ai alguém pergunta: “a quem cabe mudar?” - Aquele que se der conta que este funcionamento não está sendo salutar. “Mas como eu mudo o outro?” – Você não muda o outro, você muda a você e mudando a você mesmo o relacionamento se transformará. “E se o outro não quiser mudar?”, a resposta a essa pergunta seria uma outra pergunta: “porque você continuaria numa relação em que o outro da relação a deseja desigual?”. Escrito por Cristina Ruffino O sociólogo Zygmunt Bauman faz uma análise crítica uma da sociedade contemporânea e de suas influências nos relacionamentos, criando a
metáfora “amor líquido” para descrever os padrões de relacionamentos amorosos na sociedade atual. Para ele, a contemporaneidade vem transformando as relações, incluindo a relação amorosa. Segundo ele, o amor líquido é caracterizado pela fragilidade, pela falta de compromisso duradouro e pela busca constante por novas experiências e conexões. Os relacionamentos amorosos estão sendo permeados por ideias e expectativas de fragilidade e descartabilidade, ou seja, são frequentemente vistos como descartáveis e facilmente substituíveis. As pessoas lidam com as relações como mais fluidas e passageiras, sem depositar nela compromissos de longo prazo. Tratam assim a relação e consequentemente, a sentem como frágil, como se pudessem ser a qualquer momento serem substituídas (e substituir) por outras opções mais atraentes. Como o compromisso é frágil, o individualismo se torna preponderante. O foco é colocado nas necessidades e desejos individuais. Os relacionamentos são vistos como uma forma de satisfação pessoal e autodescoberta. Isso pode levar a uma mentalidade de busca constante pela pessoa perfeita, em vez de investir em construir relações sólidas e duradouras. Se o foco está em si e não no relacionamento, as pessoas têm dificuldade em estabelecer intimidade emocional profunda e duradoura. A ideia de compromisso a longo prazo pode parecer restritiva, sufocante, limitadora. Ao mesmo tempo em que aumenta a autonomia dentro dos relacionamentos (o que pode trazer benefícios), também aumenta a sensação de insegurança e ansiedade, já que há falta de compromisso, gerando a sensação de instabilidade e inquietação emocional. As formas de se relacionar não existem fora de uma cultura situada no tempo e no espaço, ou seja, com história e geografia definidas. Se estamos em uma cultura do consumo e do descarte, as relações tendem a traduzir e refletir essa mentalidade. As pessoas são incentivadas a buscar a satisfação imediata de seus desejos e os relacionamentos são vistos como produtos a serem consumidos e descartados quando não atenderem mais às expectativas. Relacionamentos são feitos pelas pessoas que os habitam. Portanto, são construídos pelo par (ou pares, no caso de poliamor) que estão envolvidos. A pergunta que se pode fazer é: é a esse tipo de relacionamento que eu desejo me dedicar? Se não é esse, como posso construir algo diferente a partir das minhas ações? Que conversas proponho? O que de mim ofereço? Escrito por Cristina Ruffino No trabalho como terapeuta de casais, tenho notado que as questões trazidas por casais heterossexuais, bissexuais e transgêneros têm algumas semelhanças, mas também diferenças importantes. Entendo ser fundamental reconhecer e respeitar essas diferenças para fornecer o apoio adequado a cada casal. Vamos explorar algumas áreas-chave em que encontramos tanto similaridades quanto diferenças. 1. Comunicação e conflitos: Todos os casais, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, podem enfrentar desafios na comunicação e resolução de conflitos em seus relacionamentos. Questões como falta de comunicação efetiva, dificuldades na escuta e diferentes formas de expressar afeto podem estar presentes. 2. Se perderem em ciclos de vulnerabilidades: Independentemente do gênero ou da orientação sexual, os casais podem experimentar um ciclo de vulnerabilidade em que interações negativas e desequilíbrios emocionais se repetem. Isso ocorre quando um parceiro ativa comportamentos e emoções negativas, desencadeando uma resposta negativa do outro parceiro, criando um ciclo de negatividade e vulnerabilidade. É importante compreender e interromper esse ciclo durante a terapia de casal, buscando estabelecer padrões mais saudáveis de comunicação e resolução de conflitos. 3. Aceitação e discriminação: Casais LGBTQ+ podem enfrentar desafios adicionais relacionados à aceitação e discriminação. Casais homo, bi e transgêneros, muitas vezes na nossa sociedade, lidam com a falta de compreensão e aceitação, tanto dentro da família quanto na sociedade em geral. Eles podem enfrentar preconceito, estigma e discriminação com base em sua identidade de gênero ou orientação sexual. 4. Identidade de gênero e orientação sexual: A identidade de gênero e a orientação sexual são aspectos importantes na vida dos casais LGBTQ+. Casais bissexuais podem enfrentar desafios específicos, como a invisibilidade bissexual e a falta de compreensão por parte de outras pessoas. Já os casais transgêneros podem lidar com questões relacionadas à transição de gênero, incluindo o processo de afirmação de gênero, o suporte emocional e a adaptação às mudanças na dinâmica do relacionamento. 5. Apoio social e familiar: O apoio social e familiar pode variar entre casais com diferentes formações. Na nossa sociedade atual, casais heterossexuais geralmente têm uma estrutura social mais tradicionalmente aceita e podem enfrentar menos desafios em termos de apoio externo. Já os casais bissexuais e transgêneros podem encontrar diferentes reações familiares e sociais. Quando a rede social não provê o apoio para o casal, as necessidades, conflitos e acolhimento nas horas difíceis vai requerer do casal muito mais atenção e recursos de regulação. A terapia de casal pode ajudar a melhorar a comunicação e fornecer ferramentas para lidar com os conflitos, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero. Também colabora na identificação dos padrões de negatividade que o casal pode entrar desavisadamente e ajuda a identificar formas do casal interromper o ciclo de forma produtiva. Para os casais homo, bi e trans, além do que é feito com os demais casais, também se torna fundamental identificar com os parceiros quais são os recursos que cada um usa individualmente e que eles podem usar como casal para navegar nesse contexto adversarial da nossa sociedade, fornecendo apoio emocional, ajudando a lidar com o estresse e desenvolvendo estratégias de enfrentamento. (*) A nomenclatura de gênero está em constante evolução e pode variar dependendo do contexto e da cultura. Aqui estou usando aqueles que mais comumente me chegam no consultório. Acredito que mais do que definir conceitos universais, o importante é respeitar e utilizar os termos preferidos pelas próprias pessoas envolvidas ao se referir às suas identidades de gênero, pois estes termos refletem a individualidade das experiências das pessoas, e no caso, dos casais. |
Cristina RuffinoSou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. Arquivos
Dezembro 2025
Categorias
Tudo
|