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Destaques

30/12/2025

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Terapia de Casal: Um Espaço para o Diálogo e a Reconexão
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Orientação Parental: Um Caminho de Conexão e Cuidado
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Aprendizagem Vincular: o Ser Aprendente e o Ser Ensinante
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Corregulação: como ajudar seu filho a lidar com as emoções?
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Corregulação no Casal: Como Cuidar das Emoções em Dupla
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Nosso clima, escuta terapêutica e responsabilidade
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Admirável Mundo Novo: Um Espelho do Nosso Tempo?
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Mindfulness: meditação altruísta
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A fábrica de cretinos digitais
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A Profundidade da Vipassana: Além do Mindfulness
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Psicologia Budista
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Corporeidade na relação dialógica
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Tênis e Frescobol
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Vulnerabilidade no Casal 
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Queixas x Pedidos 
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Casal: diferenças e similaridades
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Os 20 pedidos de filhos de pais separados​
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Debate e Diálogo
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Como chegar ao SIM
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Relacionamentos à distância
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Felicidade conjugal
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O eterno marido
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Para o casamento funcionar
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O cerebro do adolescente
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Meu adolescente… 
o que faço com ele?
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As cinco linguagens do amor
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Meu adolescente… o que faço com ele?
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Externalização do problema
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Externalização do vício digital
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Externalizando o alcoolismo
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Externalizando o uso de drogas
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Externalizando pensamentos suicidas
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Externalizando a traição no casal
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O cérebro da criança
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Terapia Dialógica
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Transformação da intimidade
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Após uma traição
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Ghosting
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A consciência segundo a neurociência
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Relacionamentos Firedooring
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Amor líquido
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Casal é Casal: hetero, homo, bi, trans
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Normose
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Terapia de Casal: Um Espaço para o Diálogo e a Reconexão

13/5/2025

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Por Cristina Ruffino.
A terapia de casal é um espaço seguro e acolhedor, onde duas pessoas que compartilham uma relação afetiva são convidadas a conversar com o apoio de um profissional qualificado. Trata-se de um ambiente onde é possível sair dos padrões habituais de comunicação — aqueles que muitas vezes já foram tentados e não ajudaram — para experimentar novas formas de escuta e expressão. Com isso, amplia-se a chance de restabelecer o diálogo e a conexão.

Com a mediação do terapeuta, abre-se espaço para que o casal possa se ouvir de verdade. Às vezes, o que parece ser “apenas uma briga” carrega histórias mais profundas, necessidades não ditas e afetos que ainda buscam lugar. O processo terapêutico ajuda a revelar padrões de interação que, com o tempo, provocam dor e afastamento.

De forma simples, podemos dizer que o terapeuta atua como uma testemunha sensível da relação: alguém que observa com escuta atenta, acolhe as emoções e convida o casal a refletir sobre como se comunicam e como desejam estar um com o outro. O foco está em ampliar a consciência do que acontece entre eles, e não em julgar quem tem razão.

É importante lembrar que a terapia não precisa começar em momentos de crise. Muitas vezes, é ao cuidar de pequenos incômodos que se evita que eles se transformem em grandes feridas emocionais. Assim, a terapia pode funcionar também como um espaço preventivo e de fortalecimento da relação.

Ao longo das sessões, conversas difíceis poderão emergir — e isso é esperado. Mas o casal não estará sozinho: o terapeuta estará ali para sustentar esse processo e, quando necessário, oferecer ferramentas para novas formas de conversar, inclusive fora do consultório.
​
Mais do que resolver problemas, a terapia de casal é um convite a reconstituir o vínculo e redescobrir o que realmente importa na caminhada a dois.
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Orientação Parental: Um Caminho de Conexão e Cuidado

29/1/2025

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Por Cristina Ruffino.
​Entendo que uma boa orientação parental não deve ser prescritiva, mas sim colaborativa e reflexiva. O objetivo é ajudar os pais a se tornarem mais conscientes e confiantes no relacionamento com seus filhos, promovendo um ambiente seguro e saudável para toda a família.

Cada família tem sua própria dinâmica, desafios e possibilidades. Por isso, a estrutura de uma sessão de orientação parental envolve três pilares fundamentais: acolhimento, respeito às particularidades de cada família e diálogo colaborativo. Nosso foco é o desenvolvimento da criança, sem desconsiderar as necessidades e o equilíbrio dos pais e cuidadores.

O primeiro passo é ouvir os pais, permitindo que compartilhem suas experiências e preocupações. Suas percepções precisam ser validadas porque eles são os principais construtores dessa relação com a criança.

Como Funciona a Orientação Parental?

1. Acolhimento e Validação
Muitas vezes, os pais enfrentam desafios e sentem culpa ou insegurança em suas decisões. Antes de qualquer mudança ou nova estratégia, é fundamental que se sintam compreendidos e legitimados.

Na orientação parental, não há julgamentos, apenas um espaço seguro para que possam expressar seus sentimentos, frustrações e angústias.


2. Psicoeducação
Para que os pais compreendam melhor o desenvolvimento infantil e ajustem suas expectativas e estratégias, abordamos:

  • Desenvolvimento infantil e maturação do sistema nervoso
    • Desenvolvimento neurobiológico e a capacidade de regulação emocional e comportamental.
    • Capacidade de lidar com frustrações e impulsos.
  • Co-regulação emocional e a importância do vínculo seguro.
  • Como a criança responde mais ao sentido que atribui às situações do que às instruções verbais.
  • Parentalidade responsiva: a diferença entre reações impulsivas e respostas intencionais e sensíveis às necessidades da criança.
  • O equilíbrio entre firmeza e acolhimento, essencial para um ambiente seguro e previsível.
  • Educação positiva: estratégias que promovem respeito mútuo, cooperação e autonomia infantil.

3. Estratégias Práticas e Aplicáveis
A teoria só faz sentido quando pode ser traduzida em ações do dia a dia. Por isso, ofereço intervenções baseadas em estudos e evidências, como:
​
  • Técnicas de regulação emocional: a importância da co-regulação antes da auto-regulação.
  • Comunicação não violenta: como se expressar e ouvir a criança de maneira respeitosa e efetiva.
  • Estabelecimento de limites claros e consistentes, sem autoritarismo.
    Instrumentos visuais para rotina e combinados, que ajudam a criança a compreender e antecipar o que virá.
  • Literatura infantil como aliada no fortalecimento do vínculo e na educação emocional.

4. O Foco Está na Relação Pais-Criança
O vínculo seguro é a base para o desenvolvimento e a aprendizagem. O comportamento infantil não pode ser separado da relação que a criança tem com seus cuidadores.
​

Por isso, incentivo momentos de conexão e qualidade, mesmo que curtos, pois são essenciais para fortalecer a cooperação e o respeito mútuo.

5. Flexibilidade e Personalização
Cada família é única, e a orientação parental respeita essa singularidade. Não existem regras fixas, mas sim diretrizes que podem ser adaptadas ao estilo de vida, valores e crenças de cada núcleo familiar.

6. Autocuidado Parental
Para cuidar bem dos filhos, os pais também precisam cuidar de si mesmos. Durante a orientação, também trabalhamos estratégias de regulação emocional para os adultos, ajudando-os a equilibrar suas emoções e manter uma parentalidade mais consciente e presente.

Enfim, a orientação parental não é sobre fórmulas prontas, mas sobre reflexão, conexão e aprendizado contínuo. Ao fortalecer a relação entre pais e filhos, criamos um ambiente mais seguro e amoroso, onde a criança pode crescer com autonomia, respeito e afeto.
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Corregulação: como ajudar seu filho a lidar com as emoções?

29/1/2025

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Por Cristina Ruffino.
As crianças não nascem sabendo regular suas emoções. Elas aprendem isso através do relacionamento com os adultos, observando como pais e cuidadores lidam com frustrações, medos e desafios do dia a dia.
Quando uma criança está agitada, com medo, cansada ou frustrada, ela precisa de um adulto calmo e presente para ajudá-la a se sentir segura. Esse processo se chama corregulação: você oferece o equilíbrio emocional que ela ainda não consegue alcançar sozinha.

O que fazer na prática?
​

1.  Seja um espelho emocional

  • As crianças captam e refletem o estado emocional dos adultos ao seu redor. Se a criança está nervosa e o adulto também reage com irritação, a tensão só aumenta. Mas, se o adulto mantém a calma, respira fundo e fala em um tom tranquilo, ele ajuda a criança a se acalmar também.
  • Dica prática: se a criança estiver tendo um surto de raiva ou descontrole, diga algo como:

"Eu sei que você está muito bravo agora. Eu vou esperar você se acalmar e estou aqui para te ajudar quando estiver pronto."

Isso demonstra segurança e evita que a criança sinta que precisa "controlar" sozinha algo que ainda não sabe regular.

2. Nomeie as Emoções

  • Dar nome aos sentimentos ajuda a criança a entendê-los e a desenvolver inteligência emocional.
  • Diga algo como:

"Eu vejo que você está frustrado porque o brinquedo quebrou. Isso é difícil, né? Eu estou aqui com você."

Isso valida o que a criança sente e dá segurança para que ela expresse suas emoções de forma saudável.

3. Use o corpo para acalmar

  • A comunicação não verbal é ainda mais significativa do que palavras para uma criança em crise emocional.
  • Em vez de falar muito ou tentar explicar racionalmente, experimente: um abraço reconfortante; um toque suave no ombro; apenas sentar-se perto, demonstrando presença sem exigir resposta imediata. A criança se sentirá menos sozinha e mais capaz de lidar com o que está sentindo.
 
​4. Dê previsibilidade e segurança

  • Crianças se sentem mais seguras quando sabem o que esperar, e isso reduz explosões emocionais. Assim, é útil: criar rotinas estáveis e avisar antes de mudanças importantes.

Exemplo prático:

"Daqui a 5 minutos vamos guardar os brinquedos, tá bom?"

Isso ajuda a criança a se preparar para a transição, tornando-a menos resistente.

5. 
Modele a regulação emocional

  • As crianças aprendem observando os adultos. Se você se descontrola com facilidade, será mais difícil para seu filho aprender a se regular.

Demonstre autorregulação em momentos de tensão:

"Estou ficando nervoso agora, então vou me sentar quietinho e respirar fundo para me acalmar."

Isso ensina a criança que é possível identificar e lidar com emoções de forma saudável.


O Que Evitar? 

1. Minimizar ou ignorar as emoções da criança

  • Dizer coisas como "Não foi nada", "Para de drama" ou "Engole o choro" pode fazer a criança sentir que suas emoções não são importantes.
  • Em vez disso, valide o que ela sente: "Eu sei que isso é difícil para você. Vamos respirar juntos?"
 2. Reagir com raiva ou punição imediata

  • Se a criança está chorando ou gritando, puni-la antes de ajudá-la a se acalmar pode piorar a situação. Primeiro, ajude-a a regular a emoção. Depois, converse sobre o comportamento.

"Eu sei que você está bravo. Quando se acalmar, podemos conversar sobre o que aconteceu."

3. Acreditar que a criança está fazendo aquilo de propósito

  • Muitas explosões emocionais não são manipulação, mas sim falta de habilidade para lidar com frustração ou cansaço.

Lembre-se: quando nós, adultos, estamos cansados, também ficamos mais impacientes e desregulados. Com crianças, isso é ainda mais intenso!

O impacto da corregulação a longo prazo

Quando você pratica a corregulação:

  • Seu filho aprende que suas emoções são compreendidas e aceitas.
  • Ele internaliza essa segurança e, com o tempo, aprende a se acalmar sozinho. 
  • Isso fortalece sua inteligência emocional e suas relações interpessoais.

Antes de exigir autorregulação de uma criança, os cuidadores precisam ensiná-la através da conexão e do exemplo. Afinal, crianças não precisam de perfeição, precisam de adultos que estejam dispostos a guiá-las com paciência e afeto.
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Aprendizagem Vincular: o Ser Aprendente e o Ser Ensinante

29/1/2025

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Por Cristina Ruffino.
A aprendizagem não acontece de forma isolada. Ela ocorre em um campo vincular e afetivo, onde o modo como aprendemos está diretamente ligado ao modo como somos ensinados. A psicopedagoga argentina Alicia Fernández, em seu livro "A Inteligência Aprisionada" (1991), nos convida a olhar para as dificuldades de aprendizagem não apenas como problemas individuais, mas como algo que emerge da interação entre aprendente, ensinante e contexto.

Esses conceitos se conectam diretamente à co-regulação emocional e ao desenvolvimento da autonomia infantil. O modo como os adultos ensinam influencia profundamente como as crianças aprendem:
  • Se o adulto regula suas próprias emoções ao ensinar, a criança aprende a fazer o mesmo.
  • Se o adulto ensina de forma rígida e punitiva, a criança pode desenvolver medo de errar e evitar desafios.
  • Se o adulto ensina com afeto e estrutura, a criança internaliza confiança e aprende a lidar melhor com os desafios da vida.

Assim, é importante que os pais se perguntem: 
"Como minha forma de ensinar influencia o jeito que meu filho aprende? Eu demonstro paciência ou reajo com frustração? Ensino com presença e afeto ou apenas com correção?"

Pais como Ensinantes
Os pais não apenas transmitem conhecimento, mas também um modelo de como aprender. Podemos identificar dois estilos principais de ensinantes:

1. O ensinante que ensina pela escuta e curiosidade
São aqueles que valorizam o processo de descoberta, aceitam o erro como parte do aprendizado e estimulam a exploração sem medo. Por exemplo, quando a criança erra ao montar um quebra-cabeça, o ensinante curioso não corrige imediatamente. Em vez disso, ele pergunta: "O que você acha que pode tentar agora?", convidando a criança a continuar tentando e se sentir capaz.

2. O ensinante que ensina por meio da correção e repetição
São aqueles que focam no resultado, associando aprendizado a esforço e disciplina rígida, sem conexão emocional. Esse modelo pode gerar aprendentes inseguros, com medo de errar. Por exemplo, quando a criança erra ao amarrar o sapato e recebe: “Presta atenção! Você já sabe, então faz direito!", pode desenvolver resistência a tentar novamente.
Para o ensinante, refletir sempre sobre: 
"Como fui ensinado a aprender quando criança? Isso reflete em como educo meu filho?"

Filhos como Modelos de Aprendentes
Cada criança tem um jeito único de aprender, influenciado por sua relação com os ensinantes. Algumas características comuns:
  • Aprendentes que precisam de acolhimento e explicações detalhadas.
  • Aprendentes que aprendem melhor por meio da observação e prática.
  • Aprendentes que precisam de mais tempo para processar e responder.

Os pais podem perceber isso observando para onde o olhar da criança se direciona durante a interação. Os olhinhos dela mostram onde está sua mente, e essa é a bússola para ajustar o ritmo e o modo de ensinar.

Muitas dificuldades parentais surgem do desencontro entre o modelo do ensinante e o modelo do aprendente. Se um pai é muito diretivo, mas a criança precisa de tempo para processar informações, podem surgir conflitos que poderiam ser evitados com ajustes na forma de ensinar.

Pais Também Foram Aprendentes
Alicia Fernández nos lembra que todo ensinante já foi (e continua sendo) um aprendente. O modo como os pais ensinam está fortemente ligado à forma como foram ensinados na infância.
Perguntas para reflexão do ensinante:
​
  • "Como meus pais lidavam com meus erros?"
  • "O que me ajudava a aprender melhor?"
  • "Estou repetindo um padrão ou criando algo novo com meu filho?"

Muitas vezes, sem perceber, os pais reproduzem padrões de ensino que não foram eficazes para eles mesmos. Tomar consciência disso pode ajudá-los a serem ensinantes mais flexíveis e ajustados às necessidades emocionais e cognitivas dos filhos.

Aprender juntos: uma Jornada Afetiva
O grande ensinamento de Alicia Fernández é que pais e filhos estão sempre em um campo de aprendizagem mútua. Quanto mais os pais compreendem como ensinam e como seus filhos aprendem, mais conseguem criar uma relação respeitosa e afetuosa. Ser um ensinante consciente não é apenas transmitir conhecimento, mas oferecer um ambiente emocional seguro para que o aprendizado aconteça.
​

É preciso deixar o cérebro se render ao coração, como diz minha mestre de yoga, para que a aprendizagem se vista de afeto positivo.
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Nosso clima, escuta terapêutica e responsabilidade: tudo junto e misturado.

22/10/2024

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Por Cristina Ruffino.
Observando e, muitas vezes, me angustiando com o que estamos assistindo no Brasil e no mundo em termos dos desarranjos climáticos, me deparei com leituras de Levinas, filósofo do período pós-Segunda Guerra. Derrida questionou as ideias de Levinas e as desconstruiu de uma forma que me encanta, mas descubro agora que as ideias de Levinas me fazem bem neste momento e me convidam a operar para além da angústia. Isso porque o autor coloca a responsabilidade no centro de sua ética, atribuindo-lhe um papel fundamental na relação com o Outro. Para ele, a responsabilidade é uma resposta direta e inescapável à presença do outro ser humano. A mera presença do outro nos interpela e exige uma resposta ética. 

Desde o nascimento, o ser humano está imerso em um mundo de relações e, desde cedo, aprende a reconhecer a presença dos outros. Ainda que a responsabilidade, no sentido pleno, não seja algo consciente em bebês ou crianças pequenas, a capacidade de perceber o Outro e responder a essa alteridade começa a se desenvolver nas primeiras interações sociais, como com os pais, cuidadores e pessoas próximas.

Outro dia, durante uma supervisão de Diálogos Abertos, ouvindo os colegas, essas ideias me convidaram à reflexão, naquele momento, endereçada ao contexto terapêutico: a responsabilidade do terapeuta frente ao que escuta de cada pessoa, de cada membro da família presente, daqueles que não estão presentes e dos co-terapeutas.

Para esse filósofo, a responsabilidade é anterior à liberdade. A responsabilidade para com o Outro não é algo escolhido livremente; ao contrário, ela antecede qualquer escolha ou decisão. Estamos sempre já responsáveis antes mesmo de nos darmos conta, porque o Outro nos interpela simplesmente por existir. Eu costumava pensar que não temos o livre arbítrio de não nos comunicarmos com um outro humano presente: quer escolhamos falar ou calar, levantar ou abaixar o olhar, a comunicação foi feita. Ao ler Levinas, percebo que ali já operou a responsabilidade que, segundo ele, também não é uma escolha. Enquanto penso que escolho, a ação já foi feita e sou responsável por suas consequências.

A responsabilidade que temos em relação ao Outro é, segundo ele, infinita e assimétrica. Isso significa que nunca podemos "pagar" ou "quitar" essa responsabilidade, ela está sempre além do que podemos fazer. Além disso, essa responsabilidade não é recíproca; não posso exigir que o Outro seja responsável por mim da mesma forma.

Quando Levinas se refere a "face" do Outro, não se refere ao aspecto físico, mas ao que simboliza a vulnerabilidade e a alteridade do outro ser humano. A face do Outro, ao me confrontar, impõe-me a responsabilidade. No contexto terapêutico, a “face” do outro nos diz, sem palavras: "me cuide", e este é o chamamento ético que me proíbe de objetificar ou ignorar o Outro. 

Não é só o Outro presente que se impõe, aqueles que presentificamos no diálogo também se impõem a nós. Embora a relação primordial de responsabilidade seja para com o Outro singular presente, também reconhece a necessidade de justiça quando aparece um "terceiro", ou seja, quando existem múltiplos Outros. A justiça surge como a necessidade de equilibrar a responsabilidade que temos para com cada ser humano, sem que isso diminua a singularidade da relação ética com o Outro. Nas conversas terapêuticas em que um Outro nos fala de tantos Outros, como acolhemos este Outro presente sem ignorarmos que nossa responsabilidade se estende até tantos Outros que existe em cada história? 

Vejam que intrigante: para Levinas, a subjetividade – aquilo que penso que me constitui – também se constitui precisamente na responsabilidade pelo Outro. Eu sou, enquanto sujeito, na medida em que sou responsável. Assim, para ele, a ética não é um complemento à vida humana, mas sua própria fundação!!

Depois vem Derida, desmonta tudo isso e remonta convidando a outras tantas reflexões… Enfim, o pensamento está sempre em transformação e isso me instiga a observar os efeitos que cada uma destas ideias, pensadas como metáforas, produzem em mim e que ações convidam.
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Corregulação no Casal: Como Cuidar das Emoções em Dupla

22/10/2024

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Por Cristina Ruffino.
Você já notou como o humor do seu parceiro pode afetar o seu dia? Ou como um gesto de carinho num momento de estresse pode acalmar os ânimos? Esses são exemplos do que chamamos de "corregulação" no casal.

O que é corregulação?

Corregulação é um processo em que duas pessoas, nesse caso, os parceiros em um relacionamento, se ajudam mutuamente a lidar com seus estados emocionais. É um "cuidar do bem-estar" em conjunto. Quando você percebe que seu parceiro está preocupado e tenta acalmá-lo, ou quando ele retribui seu gesto de afeto depois de um dia difícil, isso é corregulação em ação.

A identificação do fenômeno da corregulação entre humanos é tratada por diversas perspectivas da psicologia e vem sendo corroborada por achados da neurofisiológicos e bioquímica da conexão mente-corpo. Nossa necessidade de corregulação vem do fato de que, como seres humanos, estamos programados para buscar segurança e conforto nos relacionamentos. Quando você se sente seguro ao lado do seu parceiro, seu corpo e sua mente entram em um estado de relaxamento, promovendo bem-estar e proximidade.

Como acontece a corregulação?

Para que a corregulação aconteça, ambos os parceiros precisam estar presentes e abertos a participar desse processo. Não é algo que um faz sozinho; é uma colaboração. Vamos a um exemplo prático: 

Imagine que você teve um dia péssimo no trabalho e, ao chegar em casa, está irritado e fechado. Seu parceiro, percebendo isso, te acolhe, te escuta e evita críticas. Essa resposta ajuda a acalmar seu sistema nervoso e diminui seu estresse. É nesse tipo de interação que a corregulação aparece no dia a dia do casal.

Dicas para melhorar a corregulação no relacionamento:

1. Comunicação clara e empática: Praticar a expressão das emoções e vulnerabilidades ajuda o parceiro a compreender o que você está sentindo. Por exemplo, ao invés de dizer "Você nunca me escuta!", experimente: "Eu me sinto ignorado quando não consigo expressar o que estou sentindo." Da mesma forma, responder com empatia e atenção reforça a conexão emocional. 

2. Reconhecer e reparar rupturas: Momentos de conflito ou desentendimento fazem parte de qualquer relacionamento. A chave é como o casal lida com isso. Em vez de se afastar ou continuar a discussão, tente um gesto de reconciliação, como um pedido de desculpas ou um abraço. Isso ajuda a reparar a conexão emocional.

3. Autorregulação é essencial: É importante que cada um no casal consiga lidar com suas próprias emoções. Quando um parceiro depende exclusivamente do outro para se equilibrar, isso pode gerar sobrecarga. Aprender a se acalmar antes de reagir impulsivamente permite que ambos se apoiem mutuamente de forma saudável.

4. Identificar gatilhos: Cada casal tem seus próprios "pontos sensíveis", como críticas, falta de tempo juntos ou estresse. Reconhecer esses gatilhos permite abordá-los de maneira mais cuidadosa. 

5. Escuta ativa: Durante os desentendimentos, é comum querer se defender ou justificar. No entanto, ouvir genuinamente o que o outro está sentindo, sem interromper, é crucial para que ambos se sintam compreendidos. Esse simples gesto pode transformar a forma como os conflitos são resolvidos.

6. Flexibilidade e adaptação: Estar disposto a adaptar seus pontos de vista e considerar novas ideias facilita a resolução de conflitos. Flexibilidade emocional é um grande aliado na corregulação, pois abre espaço para encontrar soluções criativas e construir um relacionamento mais resiliente.

Transformando rupturas em conexão

Conflitos vão acontecer – é inevitável. Mas a forma como você e seu parceiro se reconectam após uma briga pode fortalecer ainda mais o relacionamento. Admitir medos e inseguranças, e permitir-se ser vulnerável, cria um ambiente de confiança e intimidade.

Portanto, a corregulação no casal não é sobre evitar os momentos de tensão, mas sim sobre como vocês se apoiam e crescem juntos. Como diz o terapeuta John Gottman, o sucesso de um relacionamento não está na ausência de conflitos, mas em como o casal se reconecta e aprende após cada desafio.
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Mindfulness: meditação altruísta

22/10/2024

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Por Cristina Ruffino.
No livro “New Horizons in Buddhist Psychology” publicado pelo TAOS Institute, James Austin assina o capítulo “Meditating Selflessly”(meditando altruisticamente), onde articula uma visão integrada que conecta as práticas meditativas tradicionais do budismo com as descobertas contemporâneas da neurociência. O autor discute como a meditação tem a capacidade de desconstruir a noção do "eu", que geralmente é entendido como uma entidade fixa, separada e individual. Essa desconstrução não significa uma aniquilação, mas sim uma alteração na maneira como percebemos nossa identidade. Durante a meditação profunda, a sensação de um "eu" sólido começa a se desfazer, dando lugar a uma experiência de fluidez entre o sujeito e o ambiente. 

Na tradição budista, o conceito de anatta (não-eu) é central. Austin explora como, na meditação, os praticantes começam a perceber que o "eu" é construído por pensamentos, memórias e experiências que estão constantemente mudando. A prática meditativa, ao acalmar a mente, permite uma visão direta de que o "eu" é impermanente e interdependente com o mundo ao redor.

No exercício da meditação, gradualmente ocorre uma mudança na percepção. O foco da atenção pode se expandir além dos limites do corpo e da mente individuais, permitindo que o meditador se sinta mais conectado com o todo, em vez de confinado a uma identidade limitada e separada.

James Austin utiliza a neurociência para explorar como a meditação pode alterar de forma duradoura o cérebro, um fenômeno conhecido como neuroplasticidade. Ele discute como a prática contínua de mindfulness pode modificar as conexões sinápticas no cérebro, promovendo mudanças nas áreas associadas à atenção, compaixão e autorregulação emocional.

Estudos mostram que, com a prática regular, áreas do cérebro relacionadas à atenção e à regulação emocional, como o córtex pré-frontal, se tornam mais ativas e mais espessas. Isso pode levar a uma maior capacidade de concentração e uma redução na reatividade emocional. Há, ainda, uma diminuição da atividade no que é chamado de "eu narrativo", ou seja, a constante atividade mental que cria e sustenta a sensação de um "eu" ao contar histórias sobre si mesmo. O "eu experiencial", que está mais ligado à percepção direta e ao momento presente, passa a se destacar.

Um dos efeitos do mindfulness é que “desliga” ou reduz a atividade da chamada Rede de Modo Padrão, que é a rede cerebral que está ativa quando não realizamos uma atividade específica. Quando esta rede está ativa, ela produz ruminação, os pensamentos autorreferenciais,  e as preocupações com o passado e o futuro. 

A prática meditativa, ao trazer o foco para o presente, reduz essa ativação, resultando em menos pensamentos autocentrados e em mais presença no momento. Também contribui para experiências de "não dualidade", nas quais a pessoa percebe uma dissolução das fronteiras entre o eu e o ambiente. Levando a uma sensação de paz interior e um enfraquecimento do sentimento de separação entre o "eu" e o mundo exterior.

Austin sugere que essas experiências podem estar ligadas a mudanças temporárias nas redes neurais que normalmente sustentam o senso de identidade. Ao meditar profundamente, os praticantes podem experienciar a desconstrução do "eu" e mudanças significativas na plasticidade cerebral.

Qual sua experiência com mindfulness? O que já experimentou nesta prática?
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Admirável Mundo Novo: Um Espelho do Nosso Tempo?

15/10/2024

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Por Cristina Ruffino.
O dilema apresentado por Aldous Huxley em seu clássico "Admirável Mundo Novo", escrito em 1932, é a possibilidade de um mundo onde a felicidade é garantida, onde não há conflitos, doenças ou ansiedade, mas, o preço dessa "perfeição" é a liberdade e a individualidade, ou seja, a nossa essência humana. 

Na sociedade retratada por Huxley, o controle não vem pela força, mas pela sedução do conforto e da estabilidade. As pessoas são "fabricadas" para serem felizes em suas funções pré-determinadas. A droga "soma" elimina qualquer desconforto emocional. Isso parece ser um espelho perturbador da nossa era atual. Vejamos no que isso se parece com a realidade norte americana em que um em cada cinco americanos, incluindo crianças, estão tomando algum medicamento psiquiátrico prescrito? Estas drogas certamente fornecem alívio eficaz no curto prazo, mas as consequências a longo prazo não são suficientemente discutidas – vide o documentário jornalístico “Medicando o Normal”.

Perguntemo-nos: essa felicidade artificial tem valor? O que perdemos quando eliminamos toda possibilidade de sofrimento? Quantas vezes buscamos soluções rápidas para nossos problemas emocionais? Quantas vezes nos perdemos em distrações digitais para evitar enfrentar nossos próprios pensamentos? Estamos, de certa forma, criando nossa própria versão do "soma"?

Huxley nos provoca questionando: o que realmente significa ser livre? Será que a liberdade não está justamente na possibilidade de errar, de sofrer, de questionar? Em um mundo onde tudo é controlado e previsível, o que resta da aventura de Ser humano?

Pensando na minha própria vida…  as experiências que mais me fizeram crescer não foram as mais prazerosas. Muitas delas envolveram desafios, dúvidas, angústia e dor. Se eu pudesse eliminar todos esses momentos difíceis, seria realmente o que sou?

No "admirável" mundo de Huxley, consumir não é apenas um hábito, é um dever moral. As pessoas são condicionadas a sempre buscar o novo, a nunca se satisfazer com o que têm. Soa familiar para você? 

A sociedade de Huxley usa a tecnologia para controlar todos os aspectos da vida humana, desde a genética até as emoções. Hoje, agora, também vivemos em um mundo cada vez mais mediado pela tecnologia. Ela nos conecta, nos informa, nos entretém, molda nossa rotina, nossas relações, nossos pensamentos. 

Em última análise, "Admirável Mundo Novo" nos convida a refletir sobre o que significa ser autenticamente humano. Em um mundo que constantemente nos empurra para a conformidade, como podemos preservar nossa individualidade? Como equilibrar o desejo por conforto e estabilidade com a necessidade de crescimento e autenticidade?

Estas não são perguntas fáceis, mas são essenciais. À medida que nossa sociedade avança tecnologicamente, torna-se cada vez mais crucial que nos perguntemos: que tipo de mundo estamos construindo? Que aspectos da nossa humanidade são inegociáveis, mesmo diante da promessa de uma vida sem conflitos? Qual a responsabilidade de cada um de nós frente a isso?

"Admirável Mundo Novo" não é apenas uma obra de ficção científica. É um convite para olharmos criticamente para nossas escolhas, nossas sociedades e nosso futuro. É muito mais do que uma crítica ao totalitarismo ou uma previsão tecnológica. É um alerta atemporal e um convite à reflexão sobre o que nos torna verdadeiramente humanos e sobre os perigos de uma sociedade que, ao evitar todo tipo de conflito e sofrimento, também elimina a profundidade da experiência humana.
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A Profundidade da Vipassana: Além do Mindfulness

15/10/2024

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Por Cristina Ruffino.
No livro  New Horizons in Buddhist Psychology , publicado pelo Instituto TAOS, Paul Fleischman assina o capítulo "Beyond Mindfulness: Complex Psychological Development Through Vipassana", onde ele explora os profundos impactos psicológicos da prática de meditação Vipassana. Fleischman vai além da visão popular do mindfulness, muitas vezes tratada como uma técnica simples de bem-estar, para abordar a complexidade do desenvolvimento psicológico promovido pela prática avançada de Vipassana.

Segundo ele, enquanto o mindfulness se concentra principalmente na observação do momento presente sem julgamento, a Vipassana oferece um caminho muito mais profundo e transformador para o desenvolvimento psicológico. Ao explorar a desconstrução do ego, o desenvolvimento da sabedoria (panna) e a transformação pessoal, pode gerar mudanças significativas na maneira como o praticante se relaciona com suas próprias experiências internas.

Embora o mindfulness seja um componente importante da meditação, Vipassana vai além da simples observação da mente, se aprofunda na compreensão das causas do sofrimento humano e nos padrões mentais prejudiciais que nos aprisionam. A prática de Vipassana busca cultivar uma sabedoria penetrante sobre três características fundamentais da realidade: a impermanência (anicca), o sofrimento inerente (dukkha) e a ausência de um "eu" fixo (anatta).

Fleischman enfatiza que a prática de Vipassana envolve várias etapas que levam ao desenvolvimento psicológico gradual e profundo. O praticante é incentivado a observar suas experiências internas de forma progressivamente mais penetrante, o que pode resultar em transformações psicológicas complexas. Isso inclui a reestruturação de padrões de pensamento e a criação de uma nova relação com o sofrimento, baseada na aceitação da interdependência e da impermanência de todas as coisas.

O praticante, na medida em que identifica o apego ao ego, pode desenvolver uma compreensão libertadora de que o "eu" é uma construção fluida e impermanente. Esse insight profundo permite que eles se libertem dos apegos e identidades rígidas que são frequentemente fontes de sofrimento.

A prática de Vipassana exige um compromisso profundo e de longo prazo. Ela vai muito além de uma técnica para alívio do estresse ou regulação emocional. Em vez disso, é um caminho para o crescimento psicológico e espiritual, proporcionando uma mudança duradoura e significativa no modo como se vive e se percebe o mundo.

Fleischman também sugere que a prática de Vipassana oferece uma base sólida para tratar várias formas de sofrimento psicológico. Ao abordar diretamente as raízes do sofrimento humano, a prática pode ser uma ferramenta poderosa para enfrentar problemas emocionais e comportamentais, como apego, raiva, ansiedade e depressão. No entanto, ele adverte que Vipassana requer paciência e dedicação, e seus benefícios vão além do alívio imediato dos sintomas.

Um excelente exemplo do impacto transformador de Vipassana pode ser visto no documentário indiano "Doing Time, Doing Vipassana", lançado em 1997. O filme mostra o projeto que introduziu a prática de Vipassana no presídio de Tihar, um dos maiores da Índia, sob a liderança de Kiran Bedi, ex-diretora da prisão. O documentário ilustra como a prática ajudou muitos prisioneiros a transformar suas vidas, lidando com a raiva e o arrependimento através da meditação. Link do vídeo https://youtu.be/WkxSyv5R1sg?si=sKXrcpYMRLiZ31C4

Para começar a praticar  Vipassana , o primeiro passo é o cultivo da concentração por meio da observação da respiração (Anapana), uma prática semelhante ao mindfulness. Em seguida, o praticante passa à observação imparcial das sensações corporais com equanimidade, uma prática essencial em Vipassana. Com o tempo e a prática regular, o praticante desenvolve o insight necessário para compreender a verdadeira natureza da realidade, resultando em uma mente equilibrada, menos reativa e mais sábia.

Você se sente motivado? Se sim, o que te atrai nesta prática?
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A fábrica de cretinos digitais

24/9/2024

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Como as Telas Afetam o Desenvolvimento das Crianças e a Importância da Leitura.
Por Cristina Ruffino.
Vivemos em uma era em que as telas estão por toda parte nas nossas vidas. Celulares, tablets, computadores e televisões se tornaram parte das nossas rotinas, inclusive das crianças. No entanto, Michel Desmurget, neurocientista e autor dos livros "A Fábrica de Cretinos Digitais" e "Faça-os Ler", nos alerta sobre os riscos que o excesso de exposição digital pode ter no desenvolvimento dos jovens.

Desmurget argumenta que o uso diário de dispositivos digitais está comprometendo o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. Mas por que isso acontece? O problema não é apenas o que as crianças consomem nas telas, mas o que elas deixam de fazer por estarem tão imersas nesse mundo digital.

Quando uma criança passa horas na frente de uma tela, ela perde oportunidades preciosas de desenvolver habilidades fundamentais. Ela deixa de brincar, de explorar o mundo ao seu redor, de interagir com outras pessoas e, especialmente, de ler. Segundo Desmurget, essa falta de experiências ricas pode afetar drasticamente o desenvolvimento da linguagem, a capacidade de atenção, o pensamento crítico e a empatia.

Uma das coisas que as crianças deixam de fazer é ler. Incrível, pois a escrita foi uma das maiores conquistas da nossa espécie, nos deu possibilidades incríveis de irmos para além de nós mesmos, vivermos vidas para além das nossas, vivermos tempos além do nosso tempo. A leitura é uma das atividades mais poderosas para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. A leitura ajuda a expandir o vocabulário, estimula a imaginação e a criatividade e desenvolve a empatia, ao permitir que as crianças entrem em contato com diferentes perspectivas e sentimentos.

Mas como fazer as crianças se interessarem pela leitura em um mundo dominado pelas telas? É aqui que entra o papel dos pais e educadores na criação de um ambiente propício à leitura. Desmurget nos lembra que as crianças são influenciadas pelo exemplo. Pais que leem com frequência e que promovem momentos de leitura em casa ajudam a criar uma atmosfera onde os livros são valorizados.

Não é fácil competir com a infinidade de estímulos que as telas oferecem. Desenhos coloridos, jogos interativos e vídeos rápidos prendem a atenção das crianças de forma quase hipnótica. No entanto, é essencial entender que a leitura oferece um tipo de estímulo diferente – um que nutre a mente e as emoções a longo prazo.

Desmurget enfatiza que não é necessário proibir completamente o uso das telas, mas sim estabelecer limites e incentivar ativamente a leitura. Crianças pequenas, por exemplo, precisam de livros adequados à sua faixa etária, com histórias envolventes e ilustrações que despertem a curiosidade. Conforme crescem, é importante oferecer opções variadas que atendam aos interesses de cada criança, seja aventura, fantasia, mistério ou fatos da vida real.

Para incentivar a leitura em casa podemos: 

1.   Estabelecer uma rotina de leitura que se estabelece com a leitura regular
Leia para seus filhos, mesmo que eles já saibam ler. Crie um momento especial do dia para isso, seja antes de dormir ou após as refeições. Esses momentos se tornarão hábitos que as crianças levarão para a vida adulta. 


2.   Seja exemplo para elas, envolva-se com leituras que possam ir além de posts e matérias resumidas
As crianças aprendem observando os adultos. Quando veem seus pais e familiares lendo, seja um livro, revista ou jornal, elas aprendem que a leitura é uma atividade valiosa e um lazer.


3.   Tornando a leitura divertida
Escolha livros com histórias cativantes e personagens interessantes. Use diferentes tons de voz e faça expressões faciais enquanto lê para tornar a experiência ainda mais envolvente.


4.   Leve a leitura para o cotidiano
Fale sobre as histórias lidas, relacione-as com situações do dia a dia e encoraje as crianças a contarem suas próprias versões das histórias.


5.   Crie um ambiente propício
Tenha livros acessíveis em casa. Uma estante ou prateleira ao alcance das crianças faz com que elas se sintam à vontade para explorar e escolher o que desejam ler.


6.   Limite o tempo de tela
Não é sobre proibir, mas sim regular. Regular o tempo e o que se faz nas telas é função dos adultos. Estabeleça horários específicos para o uso de telas e sempre ofereça alternativas, como brincar ao ar livre, desenhar ou ler um livro.


A comunidade também tem um papel fundamental na promoção da leitura, de um contexto onde as pessoas se interessam por livros e leituras, nascerão leitores. A leitura não deve ser vista como uma tarefa chata ou obrigatória, mas como uma atividade que pode ser divertida e transformadora. Organizar clubes de leitura, compartilhar histórias e experiências com outros pais e crianças e criar espaços dedicados aos livros são formas de construir uma cultura de leitura que transcenda os limites da casa.

Em um mundo cada vez mais digital, fazer escolhas conscientes para o bem-estar e desenvolvimento das crianças é uma tarefa nossa.  Como estamos moldando o futuro dos nossos filhos e das próximas gerações? As telas têm o seu lugar, mas a leitura é insubstituível quando se trata de cultivar mentes curiosas, críticas e empáticas. Afinal, ler é muito mais do que decifrar palavras; é descobrir novos mundos e compreender o nosso próprio.

Em última instância, me fica a máxima: atenção plena a cada escolha que fazemos (ou não fazemos) para as nossas vidas e dos nossos filhos. 
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Corporeidade na relação dialógica: a comunicação além das palavras

17/9/2024

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Por Cristina Ruffino.
John Shotter sempre me provoca e desafia. Admito que talvez ainda não o tenha compreendido em toda sua profundidade. Mas, ainda assim, usufruo de cada instante de leitura e uso na vida, no trabalho, no meu autoconhecimento. 

Para esse autor, a comunicação transcende a mera troca de informações, enraizando-se profundamente em nossa existência corpórea, emocional e prática. Nossos corpos não são meros veículos de comunicação, mas elementos constitutivos da própria interação. A linguagem e o sentido emergem não apenas das palavras, mas de um engajamento corporal holístico: gestos e expressões faciais; tom de voz e prosódia; postura e movimentos corporais; contato visual e proximidade física

A relação dialógica ocorre em um espaço intersubjetivo onde os corpos dos participantes se encontram. Este encontro vai além do cognitivo ou linguístico, criando uma experiência profundamente corporal e situada. Como uma dança, a construção de entendimentos, envolve uma sensibilidade e “escuta” mútua de corpos. Shotter enfatiza a importância de uma sensibilidade aguçada aos sinais corporais e emocionais dos outros. Esta "escuta" atenta de si e do outro é fundamental para: compreensão mútua, construção conjunta de significado e, sobretudo, a criação de "momentos de encontro"

As respostas corporais dos interlocutores são parte integral do processo de coconstrução de significado. Reações não verbais, como expressões faciais, movimentos e ritmo da fala, contribuem significativamente para o diálogo. Para além das palavras, elementos paralinguísticos desempenham um papel crucial na comunicação, envolvendo as pausas e silêncios, o ritmo respiratório e o tom de voz. Estes elementos indicam emoções, intenções e o nível de envolvimento na conversa, facilitando a fluidez do diálogo e a construção conjunta de compreensões.

Shotter introduz a noção de "conhecimento de dentro" (knowing from within), uma forma de compreensão que emerge da participação direta em práticas sociais e conversacionais. A prosódia, neste contexto, é vista como um fenômeno relacional entre os participantes e parte do “backgraund” que dá sentido às nossas interações, além de ser um elemento fundamental da "responsividade" nas interações

Quando leio as ideias de Shotter, destaca-se para mim (em mim) a primazia da afetação nas relações. Primeiro nos afetamos mutuamente a partir de sinais não conscientes (não discerníveis e identificáveis), depois, buscamos explicações cognitivas para estas afetações. Frequentemente, nossas respostas "cognitivas" são tentativas de racionalizar o que não se originou na lógica, mas na experiência corporal e emocional.

A compreensão destes aspectos da comunicação tem implicações significativas para diversos campos como terapia, educação, comunicação organizacional. Enfatiza-se a importância de estar atento não apenas ao conteúdo verbal, mas também à forma como é expresso.

A visão de Shotter sobre a corporeidade na relação dialógica nos convida a reconsiderar fundamentalmente nossa compreensão da comunicação humana. Reconhecendo o papel central do corpo e dos elementos não verbais, podemos desenvolver interações mais ricas, autênticas e significativas em todos os aspectos de nossas vidas.
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Psicologia Budista

10/9/2024

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Por Cristina Ruffino.
Há algum tempo, tenho me dedicado a entender as ideias apresentadas no livro de Maurits Kwee, editado pela TAOS Institute e prefaciado por Kenneth Gergen. Esta obra, juntamente com "Horizons in Buddhist Psychology", de co-autoria de Kwee e Gergen, tem sido uma fonte rica de insights e novas curiosidades para meus estudos.

Neste livro, Kwee apresenta uma integração inovadora entre a psicologia ocidental contemporânea e as tradições budistas milenares, com um foco especial em práticas colaborativas e relacionais. O resultado é uma abordagem que não apenas expande nossa compreensão da mente humana, mas também oferece novas ferramentas para o bem-estar psicológico.

Ele apresenta o "Budismo Relacional", que é uma abordagem que enfatiza as relações intersubjetivas e a interdependência de todos os fenômenos. Esta perspectiva incorpora ideias profundas de interconexão e coemergência de experiências e identidades, alinhando-se com o construcionismo social e a natureza relacional da realidade.

Um conceito muito interessante é o de "coemergência" - a ideia de que os fenômenos surgem mutuamente em um contexto relacional. Este conceito oferece uma nova lente para compreender os processos de autorregulação e corregulação emocional, abrindo caminho para abordagens mais holísticas no tratamento de questões psicológicas.

A consciência plena (mindfulness) emerge como uma prática fundamental neste contexto, oferecendo ferramentas poderosas para navegar a complexidade de nossas experiências emocionais e relacionais.

Kwee introduz a fascinante ideia do "não-eu" (anatta) no contexto da psicologia moderna. Ao desconstruir a noção de um eu fixo e imutável, esta abordagem oferece um caminho para reduzir o sofrimento psicológico. Compreender o "eu" como uma construção mental, moldada por contextos temporais e geográficos, pode liberar os indivíduos de padrões rígidos de pensamento e comportamento.

Integrando estas ideias, Kwee propõe um modelo de terapia dialógica e colaborativa. Nesta abordagem, terapeuta e cliente trabalham juntos em um processo cocriativo de mudança, respeitando a natureza intersubjetiva da experiência humana. Esta metodologia se mostra particularmente eficaz no tratamento de questões existenciais e no alívio do sofrimento psicológico.

O livro também explora as conexões entre práticas meditativas budistas e descobertas recentes da neurociência. Kwee examina como a meditação pode alterar a estrutura e a função cerebral, impactando diretamente nossas capacidades de auto e corregulação. Estas práticas não apenas oferecem caminhos para a redução do sofrimento, mas também abrem portas para um aumento significativo do bem-estar geral.

Este livro representa uma ponte entre a sabedoria antiga do Oriente e os avanços científicos do Ocidente, oferecendo insights valiosos para profissionais da saúde mental, pesquisadores e qualquer pessoa interessada em explorar as profundezas da consciência humana e do bem-estar psicológico.

Estes temas te interessam? Quais destes conceitos mais te intriga? Topa continuar a conversar sobre eles?
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Vulnerabilidade no Casal

30/7/2024

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Por Cristina Ruffino.
A intimidade do casal propicia múltiplas situações de acolhimento e bem estar, no entanto, essa mesma intimidade pode construir (desavisadamente) um padrão de reações entre o casal que foi chamado de Ciclo de Vulnerabilidade (Scheinkman e Fishbane).

A experiência subjetiva de cada um ao longo da vida possibilita a construção de habilidades, competências, recursos e, também, vulnerabilidades diferentes. Isso não é nem bom, nem mau. É a vida construindo pessoas únicas, onde cada um é especial.

Vulnerabilidade é algo frente ao qual a pessoa tem uma maior possibilidade de se sentir afetad@ negativamente, acionando reações de defesa, luta, fuga e congelamento.  

Vulnerabilidade não é algo errado ou inadequado n@ outr@, algo a ser consertado. É o resultado de uma vivência ou vivências que criaram um padrão e que precisa ser conhecido para ser manejado E respeitado. 

Quando conhecemos nossas vulnerabilidades, não ficamos completamente à mercê das reações que elas disparam. Podemos perceber:
  • que foram acionadas,
  • que pensamentos e sentimentos podem desencadear,
  • que ações parecem promovem.

Assim, tomando contato com esse processo, podemos assumir o controle, monitorando nossos pensamentos e ações e pedindo ajuda para quem está ao nosso redor, entendendo-o como colaborador e não como o agressor.
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Neste ciclo, não tem uma vítima e um vilão, tem duas pessoas machucadas reagindo a algo que lhes parece ameaçador.

Perceber, conhecer e nomear este padrão possibilita a mudança de conduta, a negociação e criação de narrativas baseadas na empatia e na conexão.

Podendo mover o casal da:
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Quais são suas vulnerabilidades?
O que d@ outr@ dispara suas vulnerabilidades?
Conhecendo isso, quais são seus pedidos ao outro?

Leia mais em: 
Scheinkman e Fishbane. The Vulnerability Cycle: Working With Impasses in Couple Therapy. Family Process, Vol. 43, No. 3, 2004.
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Tênis e Frescobol

30/7/2024

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Por Cristina Ruffino.
A crônica de Rubem Alves, Tênis e Frescobol, é uma deliciosa metáfora para pensar relações humanas (casais, famílias, equipes, comunidade). A mim gera muitos insights a cada nova leitura, e para vc? Segue a crônica: 

"Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?’ Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar”.
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música.

A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, ‘eu te amo’ não quer dizer mais nada”. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra no Primeiros Cadernos, é sobre este jogo de tênis:

“Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo’. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima- se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida’. A situação está salva e o ódio vai aumentando”.

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
​

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem sempre. E se deseja então que o outro viva eternamente, para que o jogo nunca tenha fim..."
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Casal: diferenças e similaridades

23/7/2024

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Por Cristina Ruffino.
Conversando com casais sobre suas diferenças e similaridades e como isso vem impactando o dia a dia da relação, vejo que muitas vezes estas percepções não se atualizam, eles se referem a diferenças e/ou similaridades de um tempo passado. Assim como, não se atualizam sobre o que cada um faz/pode fazer para ajudar o outro a se sentir melhor na relação considerando as diferenças.

Em geral eles/elas sabem quais são os resultados das ações d@ outr@ que não @s agrada, mas pouco sabem do que fazem que desagrada @ outr@ ou o que gostariam de pedir @ outr@ para se sentirem ajudad@s em um processo de convivência saudável.

Algumas perguntas que costumam nos ajudar a refletir e conversar:
  • No que sinto que temos similaridades neste momento da relação?
  • No que sinto que temos divergência neste momento da relação?
  • O que eu tenho feito para ajudar @ meu/minha companheir@ a se sentir melhor ao meu lado? Isso tem ajudado?
  • Busco observar o que @ outr@ tem feito para que eu me sinta melhor na relação? O que ele/ela faz me ajuda? Já contei isso para ele/ela fora de um contexto de briga?
  • Refletindo, o que identifico que poderia começar a fazer de diferente para que @ companheir@ se sinta melhor?
  • O que m@ companheir@ ainda não sabe das minhas necessidades e que eu gostaria de pedir? Como vou pedir sem culpar ou criticar?
  • Conseguirei ficar atento para identificar quando minhas necessidades mudarem de forma a comunicar para @ outr@ e reformular meus pedidos?

Você tem refletido sobre isso?
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Queixas x Pedidos

23/7/2024

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Por Cristina Ruffino.
Há uma diferença grande entre fazer uma queixa ou fazer um pedido. O posicionamento em que coloco @ outr@ quando eu me queixo del@ e onde me coloco é totalmente diferente, ainda que eu não tenha a intenção. Quando me queixo, @ posicion@ como:
  • Quem está errad@/não é adequad@/não é confiável/não fez bem feito...
Ao mesmo tempo, sem perceber, eu me posiciono como quem:
  • Consegue perceber adequadamente a situação/teria feito certo/tem mais responsabilidade/faz as coisas bem feitas...

O que conseguimos com queixas é a reação de defesa d@ outr@, porque, provavelmente el@ se sentirá atacad@ /criticad@ /julgad@.

Além disto, a queixa fala do passado: o que @ outr@ fez / não fez. E não diz nada sobre o que eu desejo para o futuro.

Se eu transformo a queixa em um pedido, identificando o que eu quero que aconteça, pelo que e colocando para @ outr@ isso de forma afirmativa, ou seja, ao invés de falar o que @ outr@ não fez, diga o que você gostaria que @ outr@ fizesse para ser bom para ambos. Exemplo: 
Ao invés de:
  • “Você nunca está pront@ no horário, eu não aguento mais chegar atrasado por causa de você”.
Diga:
  • “Eu gostaria muito que chegássemos cedo para pegarmos um bom lugar, você acha que conseguiria se planejar para ficar pront@ as .... horas?”

Com o pedido, eu posiciono @ outr@ como alguém que pode me compreender e que eu acredito que colaborará se puder. Ou seja, pedindo eu demonstro confiança n@ outr@ e na relação. Se @ outr@ não for poder me atender por algum motivo, el@ poderá me dizer.

Ao fazer um pedido (e não uma queixa) eu também estarei focando no problema e não na pessoa. Veja a diferença:
  • “Você sempre me atrasa e nunca consigo assistir ao show porque só sentamos no fundo, melhor não te levar mais”.
  • aqui o problema é a pessoa.
Para:
  • “Chegar tarde tem nos deixado sem conseguir um bom lugar, acredito que tenha sido ruim para nós dois. Vamos tentar chegar no horário e pegar um lugar melhor? Você poderia se preparar para sairmos mais cedo?”
  • aqui o problema é chegar tarde.
  • O outro se torna meu aliado para resolver o problema. 

Gostaria de observar se frente aos seus descontentamentos você tem levado para @ outr@ suas queixas ou seus pedidos? 

Obs. Nem sempre você conseguirá, tudo bem, você está em processo. Não desista só porque cometeu erros ou porque vê @ outr@ cometendo. Assuma que estão aprendendo e que haverá deslizes para velhos padrões. Observe, reconheça, respire e tente de novo.

Lembre-se que não é pel@ outr@, é por você. Você merece conversas mais leves e mais produtivas. Se ofereça isso.
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Os 20 pedidos dos filhos de pais separados

23/7/2024

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Mãe e Pai ...
1 - Nunca esqueçam: eu sou a criança de vocês dois. Agora, só tenho um pai ou uma mãe com quem eu moro e que me dedica mais tempo. Mas preciso também do outro.

2 - Não me perguntem se eu gosto mais de um ou do outro. Eu gosto de “igual”modo dos dois. Então não critique o outro na minha frente, porque isso dói.

3 - Ajudem-me a manter o contato com aquele com quem não fico sempre. Marque o seu número de telefone para mim, ou escreva-me o seu endereço num envelope. Ajudem-me, no Natal ou no seu aniversário, para poder preparar um presente para o outro. Das minhas fotos, façam sempre uma cópia para o outro.

4 - Conversem como adultos. Mas conversem. E não me usem como mensageiro entre vocês - ainda menos para recados que deixarão o outro triste ou furioso.

5 - Não fiquem tristes quando eu estiver com o outro. Aquele que eu deixo não precisa pensar que não vou mais amá-lo daqui há alguns dias. Eu preferia sempre ficar com vocês dois. Mas não posso dividir-me em dois pedaços - só porque vocês se separaram.

6 - Nunca me privem do tempo que me pertence com o outro. Uma parte de meu tempo é para mim e para a minha Mãe; uma parte de meu tempo é para mim e para o meu Pai. Sejam consequentes aqui.

7 - Não fiquem surpreendidos nem chateados quando eu estiver com o outro e não der noticias. Agora tenho duas casas. E preciso distingui-las bem - senão não sei mais onde fico.

8 - Não me passem ao outro, na porta da casa, como um pacote. Conversem como vocês podem ajudar a facilitar a minha vida. Quando vierem me buscar ou levar de volta, deixe que eu perceba que podem conversar e se respeitar.

9 - Se vocês não puderem suportar o olhar do outro, combinem de me buscarem na casa de avós, na escola ou na casa de amigos.

10 - Não briguem na minha frente. Sejam, ao menos, tão educados entre vocês quanto seriam com outras pessoas, como vocês também exigem de mim.

11 - Não me contem coisas que ainda não posso entender. Conversem sobre isso com outros adultos, mas não comigo.

12 - Deixem-me levar os meus amigos na casa de cada um. Eu desejo que eles possam conhecer a minha Mãe e o meu Pai e achá-los simpáticos.

13 - Concordem sobre o dinheiro. Não desejo que um tenha muito e o outro muito pouco. Tem de ser bom para os dois, assim poderei ficar à vontade com os dois.

14 - Não tentem "comprar-me". De qualquer forma, não consigo “comer todo o chocolate” que eu gostaria.

15 - Falem-me francamente quando não dá para "fechar o orçamento". Para mim, o tempo é bem mais importante que o dinheiro. Divirto-me bem mais com um brinquedo simples e engraçado que com um novo brinquedo.

16 - Não sejam sempre "ativos" comigo. Não tem de ser sempre alguma coisa agitada ou nova quando vocês fazem alguma coisa comigo. Para mim, o melhor é quando somos simplesmente felizes para brincar e que tenhamos um pouco de calma.

17 - Deixem o máximo de coisas idênticas na minha vida, como estava antes da separação. Comecem com o meu quarto, depois com as pequenas coisas que eu fazia sozinho com meu Pai ou com minha Mãe.

18 - Sejam amáveis com os meus outros avós - mesmo que, na sua separação, eles tenham ficado mais do lado do seu próprio filho. Vocês também ficariam do meu lado se eu estivesse com problemas! Não quero perder ainda os meus avós.

19 - Sejam gentis com o novo parceiro que o outro encontrará ou já encontrou. Preciso também me entender com essas outras pessoas. Prefiro quando vocês não se vêem com ciúme. Para mim, será bom quando vocês dois encontrarem alguém que possam amar. Vocês ficariam mais felizes e não ficariam tão chateados um com o outro.

20 - Sejam otimistas. Vocês não conseguiram gerir o casamento de vocês - mas tudo poderá ficar bem novamente. Releiam todos os meus pedidos. Talvez vocês conversem sobre eles. Mas não briguem. Não usem os meus pedidos para censurar o outro, atacando-o pela forma com que fez comigo. Se vocês o fizerem, vocês não terão entendido como eu me sinto e o que preciso para ser feliz.

Fonte - Tribunal de Família e Menores de Cochem-Zell/Alemanha
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Debate e Diálogo

16/7/2024

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Por Cristina Ruffino.
Estamos imersos cotidianamente em conversas que possuem propósitos diferentes e conduzem a resultados diferentes. Cada qual serve em determinadas situações e não serve para outras. Um exemplo disto é o que acontece quando estamos em um Debate/Embate ou quando estamos em um Diálogo (distinção feita pela equipe do Public Conversations Project).
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Nas relações continuadas e cotidianas, raramente o debate/embate nos ajuda. O embate tem como efeito gerar competição, e quando estou em competição o único responsável para fazer dar certo a ideia que ganhar será quem a propôs, o outro se desresponsabiliza, já que não se sentiu ouvido e considerado.

O diálogo, por outro lado, gera cooperação e novas alternativas com senso de autoria e corresponsabilidade de ambos. Todos foram ouvidos e aquela decisão final é resultado da consideração de tudo que foi colocado para ser avaliado, ainda que originalmente a ideia tenha surgido a partir de um deles. 

Observe-se nas conversas cotidianas e reflita: 
  • Você está ouvindo para refutar ou para compreender? 
  • Você está falando para expor o que pensa ou com o propósito de convencer o outro?
Se te pareceu que você está dialogando e o outro está debatendo, preste atenção mais profundamente: será que inadvertidamente você está escorregando para a argumentação ou convencimento sem perceber?
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Externalizando a traição no casal

23/4/2024

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​Escrito por Cristina Ruffino.
Abordar a traição num relacionamento a partir da externalização do problema é uma maneira de encarar essa questão delicada sob uma luz diferente. Quando falamos de externalizar, estamos falando de tirar o problema de dentro do casal e colocá-lo como um desafio externo, algo que o relacionamento enfrenta, e não como uma falha intrínseca de uma das partes.

Imagine que a traição, em vez de ser um estigma ou uma mancha no caráter de quem traiu, é vista como um intruso que entrou no relacionamento. Essa abordagem não visa minimizar a dor ou a seriedade da situação, mas oferece um meio de lidar com ela de uma forma que não esteja carregada de acusações e ressentimentos pessoais.

Ao externalizar a traição, o casal pode começar a ver a situação como um problema que ambos podem enfrentar juntos, em vez de um campo de batalha onde um é o agressor e o outro a vítima. Isso pode abrir caminho para discussões mais construtivas sobre o que levou à traição, sem que a conversa se torne uma sessão de culpa.

Isso não quer dizer que a responsabilidade pela ação desaparece. Pelo contrário, reconhecer a traição como um problema externo permite que quem traiu assuma a responsabilidade de maneira mais objetiva, sem se perder em um turbilhão de auto-recriminação. Da mesma forma, para a pessoa traída, pode ser mais fácil expressar sua dor e decepção sem cair na armadilha do ressentimento cego.

Esta perspectiva também pode ajudar na cura e na reconstrução do relacionamento. Em vez de se fixar na traição como um ato que define a relação, o casal pode começar a trabalhar juntos para fortalecer a confiança e a comunicação, abordando as falhas e vulnerabilidades que permitiram que o 'intruso' entrasse.

Em suma, ao externalizar a traição, um casal pode encontrar um caminho menos doloroso e mais produtivo para lidar com essa situação extremamente difícil, concentrando-se na cura e no crescimento conjunto, em vez de culpar e acusar.
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    Cristina Ruffino

    Sou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. 

    ​Trabalhei na Secretaria de Educação de Campinas e fui docente no Departamento de Psicologia da USP-RP. 

    ​Trabalho com pessoas e seu desenvolvimento há 3 décadas. Inicialmente como professora, formadora de professores, pesquisadora do desenvolvimento e habilidades sociais, culminando com a clínica terapêutica. Assumo uma abordagem dialógica colaborativa, sustentada por uma epistemologia Construcionista Social, que representa uma das principais contribuições no panorama dos novos paradigmas da pós-modernidade.

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