Escrito por Cristina Ruffino.
Hikikomori foi o termo cunhado para um fenômeno que vem sendo identificado a partir de sintomas como isolamento social voluntário, falta de conexão física e dependência total. O psicólogo Tamaki Saito, no final da década de 90 comparou o comportamento ao de uma "adolescência prolongada", já que os jovens vivem com seus pais que lhes dão o suporte financeiro e emocional. Porém, diferentemente do desejo natural do adolescente de se tornar independente dos pais, os hikikomoris parecem não ter esse desejo, pelo menos não o expressam em palavras ou atos. A adolescência é um período de transição da infância para a fase adulta, neste período o sujeito enfrenta desafios e incertezas de diversas ordens: formação de relações interpessoais fora da família, relações românticas, o desenvolvimento de independência e a entrada no mercado de trabalho. Os hikikomoris, ao se isolarem, não enfrentam essas dificuldades e nem lidam com as pressões externas e as expectativas sociais. Esta falta de experiência pode resultar em um atraso no desenvolvimento pessoal e social que pode se prolongar indefinidamente. Há estudiosos que dizem que em casos de hikikomori há um episódio de “derrota sem luta” que antecede o isolamento, ou seja, a pessoa desiste de algo desejado sem nunca ter lutado por aquilo. O fácil acesso à internet e a disponibilidade de entretenimento e comunicação online podem permitir que os jovens hikikomoris vivam em um mundo virtual, reduzindo a necessidade ou desejo de interações no mundo real. O fenômeno não pode ser visto sem considerar a dinâmica familiar, já que é um fenômeno que, para existir, precisa de pais que o mantenham. Em alguns casos, os pais podem inadvertidamente facilitar o isolamento ao prover todas as necessidades básicas do jovem em casa ou verem nas ações de isolamento do filho um "gosto pessoal" a ser respeitado. Vê-se formado um círculo vicioso onde um sintoma gera outros, que gerarão outros tantos.
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Cristina RuffinoSou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. Arquivos
Dezembro 2024
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