Por Cristina Ruffino. A aprendizagem não acontece de forma isolada. Ela ocorre em um campo vincular e afetivo, onde o modo como aprendemos está diretamente ligado ao modo como somos ensinados. A psicopedagoga argentina Alicia Fernández, em seu livro "A Inteligência Aprisionada" (1991), nos convida a olhar para as dificuldades de aprendizagem não apenas como problemas individuais, mas como algo que emerge da interação entre aprendente, ensinante e contexto.
Esses conceitos se conectam diretamente à co-regulação emocional e ao desenvolvimento da autonomia infantil. O modo como os adultos ensinam influencia profundamente como as crianças aprendem:
Assim, é importante que os pais se perguntem: "Como minha forma de ensinar influencia o jeito que meu filho aprende? Eu demonstro paciência ou reajo com frustração? Ensino com presença e afeto ou apenas com correção?" Pais como Ensinantes Os pais não apenas transmitem conhecimento, mas também um modelo de como aprender. Podemos identificar dois estilos principais de ensinantes: 1. O ensinante que ensina pela escuta e curiosidade São aqueles que valorizam o processo de descoberta, aceitam o erro como parte do aprendizado e estimulam a exploração sem medo. Por exemplo, quando a criança erra ao montar um quebra-cabeça, o ensinante curioso não corrige imediatamente. Em vez disso, ele pergunta: "O que você acha que pode tentar agora?", convidando a criança a continuar tentando e se sentir capaz. 2. O ensinante que ensina por meio da correção e repetição São aqueles que focam no resultado, associando aprendizado a esforço e disciplina rígida, sem conexão emocional. Esse modelo pode gerar aprendentes inseguros, com medo de errar. Por exemplo, quando a criança erra ao amarrar o sapato e recebe: “Presta atenção! Você já sabe, então faz direito!", pode desenvolver resistência a tentar novamente. Para o ensinante, refletir sempre sobre: "Como fui ensinado a aprender quando criança? Isso reflete em como educo meu filho?" Filhos como Modelos de Aprendentes Cada criança tem um jeito único de aprender, influenciado por sua relação com os ensinantes. Algumas características comuns:
Os pais podem perceber isso observando para onde o olhar da criança se direciona durante a interação. Os olhinhos dela mostram onde está sua mente, e essa é a bússola para ajustar o ritmo e o modo de ensinar. Muitas dificuldades parentais surgem do desencontro entre o modelo do ensinante e o modelo do aprendente. Se um pai é muito diretivo, mas a criança precisa de tempo para processar informações, podem surgir conflitos que poderiam ser evitados com ajustes na forma de ensinar. Pais Também Foram Aprendentes Alicia Fernández nos lembra que todo ensinante já foi (e continua sendo) um aprendente. O modo como os pais ensinam está fortemente ligado à forma como foram ensinados na infância. Perguntas para reflexão do ensinante:
Muitas vezes, sem perceber, os pais reproduzem padrões de ensino que não foram eficazes para eles mesmos. Tomar consciência disso pode ajudá-los a serem ensinantes mais flexíveis e ajustados às necessidades emocionais e cognitivas dos filhos. Aprender juntos: uma Jornada Afetiva O grande ensinamento de Alicia Fernández é que pais e filhos estão sempre em um campo de aprendizagem mútua. Quanto mais os pais compreendem como ensinam e como seus filhos aprendem, mais conseguem criar uma relação respeitosa e afetuosa. Ser um ensinante consciente não é apenas transmitir conhecimento, mas oferecer um ambiente emocional seguro para que o aprendizado aconteça. É preciso deixar o cérebro se render ao coração, como diz minha mestre de yoga, para que a aprendizagem se vista de afeto positivo.
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Cristina RuffinoSou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. Arquivos
Dezembro 2025
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