Escrito por Cristina Ruffino. "O Eterno Marido" de Dostoiévski é uma obra intrigante que mergulha nas profundezas da psique humana. Com maestria, o autor desvenda os dilemas da moral e as repercussões de nossos atos. Combinando suspense, drama e uma pitada de ironia, Dostoiévski aborda questões como ciúme, mágoa e a intrincada teia das relações humanas. A narrativa se desenrola ao redor de três figuras centrais: Velchaninov, marcado por seus mistérios e tormentos; Trusotsky, o 'eterno marido', cuja obsessão beira o patético; e Nastassya, cuja presença é sentida ao longo da história, apesar de sua morte. O desenvolvimento do enredo nos convida a refletir sobre a culpa, a possibilidade de redenção e o passado persistente que nos assombra.
O título "O Eterno Marido" serve como uma metáfora para a repetição de padrões de comportamento e relacionamentos, sugerindo que nos tornamos perpetuadores de nossas próprias neuroses. Adotando uma perspectiva bakhtiniana, podemos apreciar o dialogismo da obra, a ideia de que cada diálogo é uma interação de múltiplas vozes, perspectivas e contextos. A história é tecida com diálogos ricos e tensos, revelando uma complexa dinâmica de rivalidade, ciúme e dependência. Essas interações desvendam camadas de significados, com personagens que trazem suas histórias e visões únicas, construindo uma trama de relações dialógicas que enriquecem a narrativa. A obra também explora o conceito de carnavalização, a subversão das hierarquias sociais e convenções por meio do humor e da paródia. Este aspecto questiona e inverte as relações de poder, provocando no leitor uma sensação de surpresa e reflexão. As interações entre os personagens evocam um teatro do absurdo, onde as normas sociais são desafiadas, expondo a fragilidade e arbitrariedade das conexões humanas. Em suma, "O Eterno Marido" é uma análise rica e multifacetada da condição humana, um estudo que continua a desafiar e a fascinar leitores pela sua complexidade e relevância atemporal.
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Cristina RuffinoSou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. Arquivos
Dezembro 2025
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