Por Cristina Ruffino. Você já notou como o humor do seu parceiro pode afetar o seu dia? Ou como um gesto de carinho num momento de estresse pode acalmar os ânimos? Esses são exemplos do que chamamos de "corregulação" no casal.
O que é corregulação? Corregulação é um processo em que duas pessoas, nesse caso, os parceiros em um relacionamento, se ajudam mutuamente a lidar com seus estados emocionais. É um "cuidar do bem-estar" em conjunto. Quando você percebe que seu parceiro está preocupado e tenta acalmá-lo, ou quando ele retribui seu gesto de afeto depois de um dia difícil, isso é corregulação em ação. A identificação do fenômeno da corregulação entre humanos é tratada por diversas perspectivas da psicologia e vem sendo corroborada por achados da neurofisiológicos e bioquímica da conexão mente-corpo. Nossa necessidade de corregulação vem do fato de que, como seres humanos, estamos programados para buscar segurança e conforto nos relacionamentos. Quando você se sente seguro ao lado do seu parceiro, seu corpo e sua mente entram em um estado de relaxamento, promovendo bem-estar e proximidade. Como acontece a corregulação? Para que a corregulação aconteça, ambos os parceiros precisam estar presentes e abertos a participar desse processo. Não é algo que um faz sozinho; é uma colaboração. Vamos a um exemplo prático: Imagine que você teve um dia péssimo no trabalho e, ao chegar em casa, está irritado e fechado. Seu parceiro, percebendo isso, te acolhe, te escuta e evita críticas. Essa resposta ajuda a acalmar seu sistema nervoso e diminui seu estresse. É nesse tipo de interação que a corregulação aparece no dia a dia do casal. Dicas para melhorar a corregulação no relacionamento: 1. Comunicação clara e empática: Praticar a expressão das emoções e vulnerabilidades ajuda o parceiro a compreender o que você está sentindo. Por exemplo, ao invés de dizer "Você nunca me escuta!", experimente: "Eu me sinto ignorado quando não consigo expressar o que estou sentindo." Da mesma forma, responder com empatia e atenção reforça a conexão emocional. 2. Reconhecer e reparar rupturas: Momentos de conflito ou desentendimento fazem parte de qualquer relacionamento. A chave é como o casal lida com isso. Em vez de se afastar ou continuar a discussão, tente um gesto de reconciliação, como um pedido de desculpas ou um abraço. Isso ajuda a reparar a conexão emocional. 3. Autorregulação é essencial: É importante que cada um no casal consiga lidar com suas próprias emoções. Quando um parceiro depende exclusivamente do outro para se equilibrar, isso pode gerar sobrecarga. Aprender a se acalmar antes de reagir impulsivamente permite que ambos se apoiem mutuamente de forma saudável. 4. Identificar gatilhos: Cada casal tem seus próprios "pontos sensíveis", como críticas, falta de tempo juntos ou estresse. Reconhecer esses gatilhos permite abordá-los de maneira mais cuidadosa. 5. Escuta ativa: Durante os desentendimentos, é comum querer se defender ou justificar. No entanto, ouvir genuinamente o que o outro está sentindo, sem interromper, é crucial para que ambos se sintam compreendidos. Esse simples gesto pode transformar a forma como os conflitos são resolvidos. 6. Flexibilidade e adaptação: Estar disposto a adaptar seus pontos de vista e considerar novas ideias facilita a resolução de conflitos. Flexibilidade emocional é um grande aliado na corregulação, pois abre espaço para encontrar soluções criativas e construir um relacionamento mais resiliente. Transformando rupturas em conexão Conflitos vão acontecer – é inevitável. Mas a forma como você e seu parceiro se reconectam após uma briga pode fortalecer ainda mais o relacionamento. Admitir medos e inseguranças, e permitir-se ser vulnerável, cria um ambiente de confiança e intimidade. Portanto, a corregulação no casal não é sobre evitar os momentos de tensão, mas sim sobre como vocês se apoiam e crescem juntos. Como diz o terapeuta John Gottman, o sucesso de um relacionamento não está na ausência de conflitos, mas em como o casal se reconecta e aprende após cada desafio.
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Cristina RuffinoSou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. Arquivos
Dezembro 2024
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