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Como as Telas Afetam o Desenvolvimento das Crianças e a Importância da Leitura. Por Cristina Ruffino. Vivemos em uma era em que as telas estão por toda parte nas nossas vidas. Celulares, tablets, computadores e televisões se tornaram parte das nossas rotinas, inclusive das crianças. No entanto, Michel Desmurget, neurocientista e autor dos livros "A Fábrica de Cretinos Digitais" e "Faça-os Ler", nos alerta sobre os riscos que o excesso de exposição digital pode ter no desenvolvimento dos jovens.
Desmurget argumenta que o uso diário de dispositivos digitais está comprometendo o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. Mas por que isso acontece? O problema não é apenas o que as crianças consomem nas telas, mas o que elas deixam de fazer por estarem tão imersas nesse mundo digital. Quando uma criança passa horas na frente de uma tela, ela perde oportunidades preciosas de desenvolver habilidades fundamentais. Ela deixa de brincar, de explorar o mundo ao seu redor, de interagir com outras pessoas e, especialmente, de ler. Segundo Desmurget, essa falta de experiências ricas pode afetar drasticamente o desenvolvimento da linguagem, a capacidade de atenção, o pensamento crítico e a empatia. Uma das coisas que deixamos de fazer é ler. A leitura é uma das atividades mais poderosas para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. A leitura ajuda a expandir o vocabulário, estimula a imaginação e a criatividade e desenvolve a empatia, ao permitir que as crianças entrem em contato com diferentes perspectivas e sentimentos. Mas como fazer as crianças se interessarem pela leitura em um mundo dominado pelas telas? É aqui que entra o papel dos pais e educadores na criação de um ambiente propício à leitura. Desmurget nos lembra que as crianças são influenciadas pelo exemplo. Pais que leem com frequência e que promovem momentos de leitura em casa ajudam a criar uma atmosfera onde os livros são valorizados. Não é fácil competir com a infinidade de estímulos que as telas oferecem. Desenhos coloridos, jogos interativos e vídeos rápidos prendem a atenção das crianças de forma quase hipnótica. No entanto, é essencial entender que a leitura oferece um tipo de estímulo diferente – um que nutre a mente e as emoções a longo prazo. Desmurget enfatiza que não é necessário proibir completamente o uso das telas, mas sim estabelecer limites e incentivar ativamente a leitura. Crianças pequenas, por exemplo, precisam de livros adequados à sua faixa etária, com histórias envolventes e ilustrações que despertem a curiosidade. Conforme crescem, é importante oferecer opções variadas que atendam aos interesses de cada criança, seja aventura, fantasia, mistério ou fatos da vida real. Para incentivar a leitura em casa podemos: 1. Estabelecer uma rotina de leitura Leia para seus filhos, mesmo que eles já saibam ler. Crie um momento especial do dia para a leitura, seja antes de dormir ou após as refeições. Esses momentos se tornarão hábitos que as crianças levarão para a vida adulta. 2. Ser exemplo As crianças aprendem observando os adultos. Quando veem seus pais e familiares lendo, seja um livro, revista ou jornal, elas aprendem que a leitura é uma atividade valiosa. 3. Tornando a leitura divertida Escolha livros com histórias cativantes e personagens interessantes. Use diferentes tons de voz e faça expressões faciais enquanto lê para tornar a experiência ainda mais envolvente. 4. Leve a leitura para o cotidiano Fale sobre as histórias lidas, relacione-as com situações do dia a dia e encoraje as crianças a contarem suas próprias versões das histórias. 5. Crie um ambiente propício Tenha livros acessíveis em casa. Uma estante ou prateleira ao alcance das crianças faz com que elas se sintam à vontade para explorar e escolher o que desejam ler. 6. Limite o tempo de tela Não é sobre proibir, mas sim regular. Regular o tempo e o que se faz nas telas é função dos adultos. Estabeleça horários específicos para o uso de telas e sempre ofereça alternativas, como brincar ao ar livre, desenhar ou ler um livro. A comunidade também tem um papel fundamental na promoção da leitura, de um contexto onde as pessoas se interessam por livros e leituras, nascerão leitores. A leitura não deve ser vista como uma tarefa chata ou obrigatória, mas como uma atividade que pode ser divertida e transformadora. Organizar clubes de leitura, compartilhar histórias e experiências com outros pais e crianças e criar espaços dedicados aos livros são formas de construir uma cultura de leitura que transcenda os limites da casa. Em um mundo cada vez mais digital, fazer escolhas conscientes para o bem-estar e desenvolvimento das crianças é uma tarefa nossa. Como estamos moldando o futuro dos nossos filhos e das próximas gerações? As telas têm o seu lugar, mas a leitura é insubstituível quando se trata de cultivar mentes curiosas, críticas e empáticas. Afinal, ler é muito mais do que decifrar palavras; é descobrir novos mundos e compreender o nosso próprio. Em última instância, me fica a máxima: atenção plena a cada escolha que fazemos (ou não fazemos) para as nossas vidas e dos nossos filhos. Por Cristina Ruffino. John Shotter sempre me provoca e desafia. Admito que talvez ainda não o tenha compreendido em toda sua profundidade. Mas, ainda assim, usufruo de cada instante de leitura e uso na vida, no trabalho, no meu autoconhecimento.
Para esse autor, a comunicação transcende a mera troca de informações, enraizando-se profundamente em nossa existência corpórea, emocional e prática. Nossos corpos não são meros veículos de comunicação, mas elementos constitutivos da própria interação. A linguagem e o sentido emergem não apenas das palavras, mas de um engajamento corporal holístico: gestos e expressões faciais; tom de voz e prosódia; postura e movimentos corporais; contato visual e proximidade física A relação dialógica ocorre em um espaço intersubjetivo onde os corpos dos participantes se encontram. Este encontro vai além do cognitivo ou linguístico, criando uma experiência profundamente corporal e situada. Como uma dança, a construção de entendimentos, envolve uma sensibilidade e “escuta” mútua de corpos. Shotter enfatiza a importância de uma sensibilidade aguçada aos sinais corporais e emocionais dos outros. Esta "escuta" atenta de si e do outro é fundamental para: compreensão mútua, construção conjunta de significado e, sobretudo, a criação de "momentos de encontro" As respostas corporais dos interlocutores são parte integral do processo de coconstrução de significado. Reações não verbais, como expressões faciais, movimentos e ritmo da fala, contribuem significativamente para o diálogo. Para além das palavras, elementos paralinguísticos desempenham um papel crucial na comunicação, envolvendo as pausas e silêncios, o ritmo respiratório e o tom de voz. Estes elementos indicam emoções, intenções e o nível de envolvimento na conversa, facilitando a fluidez do diálogo e a construção conjunta de compreensões. Shotter introduz a noção de "conhecimento de dentro" (knowing from within), uma forma de compreensão que emerge da participação direta em práticas sociais e conversacionais. A prosódia, neste contexto, é vista como um fenômeno relacional entre os participantes e parte do “backgraund” que dá sentido às nossas interações, além de ser um elemento fundamental da "responsividade" nas interações Quando leio as ideias de Shotter, destaca-se para mim (em mim) a primazia da afetação nas relações. Primeiro nos afetamos mutuamente a partir de sinais não conscientes (não discerníveis e identificáveis), depois, buscamos explicações cognitivas para estas afetações. Frequentemente, nossas respostas "cognitivas" são tentativas de racionalizar o que não se originou na lógica, mas na experiência corporal e emocional. A compreensão destes aspectos da comunicação tem implicações significativas para diversos campos como terapia, educação, comunicação organizacional. Enfatiza-se a importância de estar atento não apenas ao conteúdo verbal, mas também à forma como é expresso. A visão de Shotter sobre a corporeidade na relação dialógica nos convida a reconsiderar fundamentalmente nossa compreensão da comunicação humana. Reconhecendo o papel central do corpo e dos elementos não verbais, podemos desenvolver interações mais ricas, autênticas e significativas em todos os aspectos de nossas vidas. Por Cristina Ruffino. Há algum tempo, tenho me dedicado a entender as ideias apresentadas no livro de Maurits Kwee, editado pela TAOS Institute e prefaciado por Kenneth Gergen. Esta obra, juntamente com "Horizons in Buddhist Psychology", de co-autoria de Kwee e Gergen, tem sido uma fonte rica de insights e novas curiosidades para meus estudos.
Neste livro, Kwee apresenta uma integração inovadora entre a psicologia ocidental contemporânea e as tradições budistas milenares, com um foco especial em práticas colaborativas e relacionais. O resultado é uma abordagem que não apenas expande nossa compreensão da mente humana, mas também oferece novas ferramentas para o bem-estar psicológico. Ele apresenta o "Budismo Relacional", que é uma abordagem que enfatiza as relações intersubjetivas e a interdependência de todos os fenômenos. Esta perspectiva incorpora ideias profundas de interconexão e coemergência de experiências e identidades, alinhando-se com o construcionismo social e a natureza relacional da realidade. Um conceito muito interessante é o de "coemergência" - a ideia de que os fenômenos surgem mutuamente em um contexto relacional. Este conceito oferece uma nova lente para compreender os processos de autorregulação e corregulação emocional, abrindo caminho para abordagens mais holísticas no tratamento de questões psicológicas. A consciência plena (mindfulness) emerge como uma prática fundamental neste contexto, oferecendo ferramentas poderosas para navegar a complexidade de nossas experiências emocionais e relacionais. Kwee introduz a fascinante ideia do "não-eu" (anatta) no contexto da psicologia moderna. Ao desconstruir a noção de um eu fixo e imutável, esta abordagem oferece um caminho para reduzir o sofrimento psicológico. Compreender o "eu" como uma construção mental, moldada por contextos temporais e geográficos, pode liberar os indivíduos de padrões rígidos de pensamento e comportamento. Integrando estas ideias, Kwee propõe um modelo de terapia dialógica e colaborativa. Nesta abordagem, terapeuta e cliente trabalham juntos em um processo cocriativo de mudança, respeitando a natureza intersubjetiva da experiência humana. Esta metodologia se mostra particularmente eficaz no tratamento de questões existenciais e no alívio do sofrimento psicológico. O livro também explora as conexões entre práticas meditativas budistas e descobertas recentes da neurociência. Kwee examina como a meditação pode alterar a estrutura e a função cerebral, impactando diretamente nossas capacidades de auto e corregulação. Estas práticas não apenas oferecem caminhos para a redução do sofrimento, mas também abrem portas para um aumento significativo do bem-estar geral. Este livro representa uma ponte entre a sabedoria antiga do Oriente e os avanços científicos do Ocidente, oferecendo insights valiosos para profissionais da saúde mental, pesquisadores e qualquer pessoa interessada em explorar as profundezas da consciência humana e do bem-estar psicológico. Estes temas te interessam? Quais destes conceitos mais te intriga? Topa continuar a conversar sobre eles? Por Cristina Ruffino. A intimidade do casal propicia múltiplas situações de acolhimento e bem estar, no entanto, essa mesma intimidade pode construir (desavisadamente) um padrão de reações entre o casal que foi chamado de Ciclo de Vulnerabilidade (Scheinkman e Fishbane). A experiência subjetiva de cada um ao longo da vida possibilita a construção de habilidades, competências, recursos e, também, vulnerabilidades diferentes. Isso não é nem bom, nem mau. É a vida construindo pessoas únicas, onde cada um é especial. Vulnerabilidade é algo frente ao qual a pessoa tem uma maior possibilidade de se sentir afetad@ negativamente, acionando reações de defesa, luta, fuga e congelamento. Vulnerabilidade não é algo errado ou inadequado n@ outr@, algo a ser consertado. É o resultado de uma vivência ou vivências que criaram um padrão e que precisa ser conhecido para ser manejado E respeitado. Quando conhecemos nossas vulnerabilidades, não ficamos completamente à mercê das reações que elas disparam. Podemos perceber:
Assim, tomando contato com esse processo, podemos assumir o controle, monitorando nossos pensamentos e ações e pedindo ajuda para quem está ao nosso redor, entendendo-o como colaborador e não como o agressor. Neste ciclo, não tem uma vítima e um vilão, tem duas pessoas machucadas reagindo a algo que lhes parece ameaçador. Perceber, conhecer e nomear este padrão possibilita a mudança de conduta, a negociação e criação de narrativas baseadas na empatia e na conexão. Podendo mover o casal da: Quais são suas vulnerabilidades?
O que d@ outr@ dispara suas vulnerabilidades? Conhecendo isso, quais são seus pedidos ao outro? Leia mais em: Scheinkman e Fishbane. The Vulnerability Cycle: Working With Impasses in Couple Therapy. Family Process, Vol. 43, No. 3, 2004. Por Cristina Ruffino. A crônica de Rubem Alves, Tênis e Frescobol, é uma deliciosa metáfora para pensar relações humanas (casais, famílias, equipes, comunidade). A mim gera muitos insights a cada nova leitura, e para vc? Segue a crônica:
"Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa. Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?’ Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar”. Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, ‘eu te amo’ não quer dizer mais nada”. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”. O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro. O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos... A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá... Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra no Primeiros Cadernos, é sobre este jogo de tênis: “Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo’. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima- se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida’. A situação está salva e o ódio vai aumentando”. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde. Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem sempre. E se deseja então que o outro viva eternamente, para que o jogo nunca tenha fim..." Por Cristina Ruffino. Conversando com casais sobre suas diferenças e similaridades e como isso vem impactando o dia a dia da relação, vejo que muitas vezes estas percepções não se atualizam, eles se referem a diferenças e/ou similaridades de um tempo passado. Assim como, não se atualizam sobre o que cada um faz/pode fazer para ajudar o outro a se sentir melhor na relação considerando as diferenças.
Em geral eles/elas sabem quais são os resultados das ações d@ outr@ que não @s agrada, mas pouco sabem do que fazem que desagrada @ outr@ ou o que gostariam de pedir @ outr@ para se sentirem ajudad@s em um processo de convivência saudável. Algumas perguntas que costumam nos ajudar a refletir e conversar:
Você tem refletido sobre isso? Por Cristina Ruffino. Há uma diferença grande entre fazer uma queixa ou fazer um pedido. O posicionamento em que coloco @ outr@ quando eu me queixo del@ e onde me coloco é totalmente diferente, ainda que eu não tenha a intenção. Quando me queixo, @ posicion@ como:
O que conseguimos com queixas é a reação de defesa d@ outr@, porque, provavelmente el@ se sentirá atacad@ /criticad@ /julgad@. Além disto, a queixa fala do passado: o que @ outr@ fez / não fez. E não diz nada sobre o que eu desejo para o futuro. Se eu transformo a queixa em um pedido, identificando o que eu quero que aconteça, pelo que e colocando para @ outr@ isso de forma afirmativa, ou seja, ao invés de falar o que @ outr@ não fez, diga o que você gostaria que @ outr@ fizesse para ser bom para ambos. Exemplo: Ao invés de:
Com o pedido, eu posiciono @ outr@ como alguém que pode me compreender e que eu acredito que colaborará se puder. Ou seja, pedindo eu demonstro confiança n@ outr@ e na relação. Se @ outr@ não for poder me atender por algum motivo, el@ poderá me dizer. Ao fazer um pedido (e não uma queixa) eu também estarei focando no problema e não na pessoa. Veja a diferença:
Gostaria de observar se frente aos seus descontentamentos você tem levado para @ outr@ suas queixas ou seus pedidos? Obs. Nem sempre você conseguirá, tudo bem, você está em processo. Não desista só porque cometeu erros ou porque vê @ outr@ cometendo. Assuma que estão aprendendo e que haverá deslizes para velhos padrões. Observe, reconheça, respire e tente de novo. Lembre-se que não é pel@ outr@, é por você. Você merece conversas mais leves e mais produtivas. Se ofereça isso. Mãe e Pai ...
1 - Nunca esqueçam: eu sou a criança de vocês dois. Agora, só tenho um pai ou uma mãe com quem eu moro e que me dedica mais tempo. Mas preciso também do outro. 2 - Não me perguntem se eu gosto mais de um ou do outro. Eu gosto de “igual”modo dos dois. Então não critique o outro na minha frente, porque isso dói. 3 - Ajudem-me a manter o contato com aquele com quem não fico sempre. Marque o seu número de telefone para mim, ou escreva-me o seu endereço num envelope. Ajudem-me, no Natal ou no seu aniversário, para poder preparar um presente para o outro. Das minhas fotos, façam sempre uma cópia para o outro. 4 - Conversem como adultos. Mas conversem. E não me usem como mensageiro entre vocês - ainda menos para recados que deixarão o outro triste ou furioso. 5 - Não fiquem tristes quando eu estiver com o outro. Aquele que eu deixo não precisa pensar que não vou mais amá-lo daqui há alguns dias. Eu preferia sempre ficar com vocês dois. Mas não posso dividir-me em dois pedaços - só porque vocês se separaram. 6 - Nunca me privem do tempo que me pertence com o outro. Uma parte de meu tempo é para mim e para a minha Mãe; uma parte de meu tempo é para mim e para o meu Pai. Sejam consequentes aqui. 7 - Não fiquem surpreendidos nem chateados quando eu estiver com o outro e não der noticias. Agora tenho duas casas. E preciso distingui-las bem - senão não sei mais onde fico. 8 - Não me passem ao outro, na porta da casa, como um pacote. Conversem como vocês podem ajudar a facilitar a minha vida. Quando vierem me buscar ou levar de volta, deixe que eu perceba que podem conversar e se respeitar. 9 - Se vocês não puderem suportar o olhar do outro, combinem de me buscarem na casa de avós, na escola ou na casa de amigos. 10 - Não briguem na minha frente. Sejam, ao menos, tão educados entre vocês quanto seriam com outras pessoas, como vocês também exigem de mim. 11 - Não me contem coisas que ainda não posso entender. Conversem sobre isso com outros adultos, mas não comigo. 12 - Deixem-me levar os meus amigos na casa de cada um. Eu desejo que eles possam conhecer a minha Mãe e o meu Pai e achá-los simpáticos. 13 - Concordem sobre o dinheiro. Não desejo que um tenha muito e o outro muito pouco. Tem de ser bom para os dois, assim poderei ficar à vontade com os dois. 14 - Não tentem "comprar-me". De qualquer forma, não consigo “comer todo o chocolate” que eu gostaria. 15 - Falem-me francamente quando não dá para "fechar o orçamento". Para mim, o tempo é bem mais importante que o dinheiro. Divirto-me bem mais com um brinquedo simples e engraçado que com um novo brinquedo. 16 - Não sejam sempre "ativos" comigo. Não tem de ser sempre alguma coisa agitada ou nova quando vocês fazem alguma coisa comigo. Para mim, o melhor é quando somos simplesmente felizes para brincar e que tenhamos um pouco de calma. 17 - Deixem o máximo de coisas idênticas na minha vida, como estava antes da separação. Comecem com o meu quarto, depois com as pequenas coisas que eu fazia sozinho com meu Pai ou com minha Mãe. 18 - Sejam amáveis com os meus outros avós - mesmo que, na sua separação, eles tenham ficado mais do lado do seu próprio filho. Vocês também ficariam do meu lado se eu estivesse com problemas! Não quero perder ainda os meus avós. 19 - Sejam gentis com o novo parceiro que o outro encontrará ou já encontrou. Preciso também me entender com essas outras pessoas. Prefiro quando vocês não se vêem com ciúme. Para mim, será bom quando vocês dois encontrarem alguém que possam amar. Vocês ficariam mais felizes e não ficariam tão chateados um com o outro. 20 - Sejam otimistas. Vocês não conseguiram gerir o casamento de vocês - mas tudo poderá ficar bem novamente. Releiam todos os meus pedidos. Talvez vocês conversem sobre eles. Mas não briguem. Não usem os meus pedidos para censurar o outro, atacando-o pela forma com que fez comigo. Se vocês o fizerem, vocês não terão entendido como eu me sinto e o que preciso para ser feliz. Fonte - Tribunal de Família e Menores de Cochem-Zell/Alemanha Por Cristina Ruffino. Estamos imersos cotidianamente em conversas que possuem propósitos diferentes e conduzem a resultados diferentes. Cada qual serve em determinadas situações e não serve para outras. Um exemplo disto é o que acontece quando estamos em um Debate/Embate ou quando estamos em um Diálogo (distinção feita pela equipe do Public Conversations Project). Nas relações continuadas e cotidianas, raramente o debate/embate nos ajuda. O embate tem como efeito gerar competição, e quando estou em competição o único responsável para fazer dar certo a ideia que ganhar será quem a propôs, o outro se desresponsabiliza, já que não se sentiu ouvido e considerado.
O diálogo, por outro lado, gera cooperação e novas alternativas com senso de autoria e corresponsabilidade de ambos. Todos foram ouvidos e aquela decisão final é resultado da consideração de tudo que foi colocado para ser avaliado, ainda que originalmente a ideia tenha surgido a partir de um deles. Observe-se nas conversas cotidianas e reflita:
Escrito por Cristina Ruffino. Abordar a traição num relacionamento a partir da externalização do problema é uma maneira de encarar essa questão delicada sob uma luz diferente. Quando falamos de externalizar, estamos falando de tirar o problema de dentro do casal e colocá-lo como um desafio externo, algo que o relacionamento enfrenta, e não como uma falha intrínseca de uma das partes.
Imagine que a traição, em vez de ser um estigma ou uma mancha no caráter de quem traiu, é vista como um intruso que entrou no relacionamento. Essa abordagem não visa minimizar a dor ou a seriedade da situação, mas oferece um meio de lidar com ela de uma forma que não esteja carregada de acusações e ressentimentos pessoais. Ao externalizar a traição, o casal pode começar a ver a situação como um problema que ambos podem enfrentar juntos, em vez de um campo de batalha onde um é o agressor e o outro a vítima. Isso pode abrir caminho para discussões mais construtivas sobre o que levou à traição, sem que a conversa se torne uma sessão de culpa. Isso não quer dizer que a responsabilidade pela ação desaparece. Pelo contrário, reconhecer a traição como um problema externo permite que quem traiu assuma a responsabilidade de maneira mais objetiva, sem se perder em um turbilhão de auto-recriminação. Da mesma forma, para a pessoa traída, pode ser mais fácil expressar sua dor e decepção sem cair na armadilha do ressentimento cego. Esta perspectiva também pode ajudar na cura e na reconstrução do relacionamento. Em vez de se fixar na traição como um ato que define a relação, o casal pode começar a trabalhar juntos para fortalecer a confiança e a comunicação, abordando as falhas e vulnerabilidades que permitiram que o 'intruso' entrasse. Em suma, ao externalizar a traição, um casal pode encontrar um caminho menos doloroso e mais produtivo para lidar com essa situação extremamente difícil, concentrando-se na cura e no crescimento conjunto, em vez de culpar e acusar. De Roger Fisher,, William Ury e Bruce Patton, No livro "Como Chegar ao Sim", os autores nos apresentam um método de negociação baseado em princípios e não em barganhas ou ameaças. É sabido que quando fazemos uma negociação baseada em barganha ou pressão, ainda que ganhemos aquela negociação, deixamos a relação marcada pela sensação de injustiça, manipulação e desejos de vingança. Essas marcas se propagam para além das pessoas envolvidas diretamente naquele conflito, criando ao nosso redor um ambiente de vigilância e defesa de todos contra todos.
Na negociação baseada em princípios, entramos para o mundo da arte da negociação. Os autores desdobram a estratégia revolucionária da negociação baseada em interesses, também conhecida como a abordagem do ganha-ganha. Aqui, eles propõem um caminho para além do confronto, destacando quatro pilares fundamentais que prometem transformar nossas interações. 1. Separar as pessoas do problema: Imagine que, ao invés de encararmos o outro como um adversário, o vemos como um parceiro em potencial na resolução de uma questão comum. Não significa ignorar o problema ou ficar indiferente à questão que precisa ser resolvida, mas encarar juntos o problema. Este princípio encoraja a empatia e a cooperação, enfatizando a importância de distinguir entre as emoções e o problema em si. É um convite a reconhecer que, juntos, podemos ser arquitetos de soluções criativas, mantendo os relacionamentos não só intactos mas fortalecidos. 2. Concentrar-se nos interesses, não nas posições: Frequentemente, nos apegamos a nossas posições (o que entendemos como a solução) como se fossem extensões de nossa identidade. Mas, e se olhássemos além? Ao focar nos interesses que motivam nossas demandas, abrimos caminho para compreender verdadeiramente o que está em jogo. Esse entendimento mútuo pode ser a chave para desvendar soluções inesperadas, que satisfaçam a essência do que ambas as partes realmente necessitam. 3. Gerar opções de ganhos mútuos: Em vez de uma batalha onde só pode haver um vencedor, os autores nos convidam a ver a negociação como um terreno fértil para a criatividade. Aqui, o desafio é pensar fora da caixa, buscando soluções que beneficiem a todos. Isso não apenas aumenta as chances de um acordo bem-sucedido que perdurará, mas também promove um sentimento de realização compartilhada. 4. Usar critérios objetivos: Por último, mas não menos importante, é fundamental que as decisões tomadas sejam justas, baseadas não em caprichos pessoais ou pressões, mas em critérios objetivos e mutuamente aceitos. Isso estabelece um terreno comum de entendimento e respeito, pavimentando o caminho para decisões equilibradas e equitativas e a possibilidade de novos acordos. Ao abraçar esses princípios, a negociação se transforma de um confronto desgastante para um diálogo construtivo, onde todos os envolvidos têm a ganhar. Essa abordagem não apenas enriquece as relações, mas nos ensina uma lição valiosa sobre a natureza colaborativa do sucesso humano. Você já vivenciou situações de confronto que gerou mal estar para todos, se conhecesse estes princípios na época, acha que teriam sido úteis? Sabendo hoje que uma negociação pode ser feita a partir deste paradigma, gostaria de fazer diferente no futuro? Escrito por Cristina Ruffino. "Amar era pouco para mim, depois que eu experimentara a felicidade de apaixonar-me por ele. Eu queria movimento, e não uma fluência tranquila da vida." Márya - Tolstoy
Dentro das páginas de "Felicidade Conjugal", Tolstói nos convida a um íntimo mergulho nas profundezas das relações humanas, tecendo uma trama que gira em torno das emoções críveis e das percepções agudas de seus personagens. Não é apenas a história que se desenrola, mas um diálogo entre as almas, cada uma trazendo sua própria melodia para a sinfonia da vida. Com uma maestria que só Tolstói possui, ele nos conduz pelo labirinto do amor e do casamento, guiados pelos olhos de Márya, uma jovem cuja jornada do coração é tão cativante quanto complexa. Desde os primeiros capítulos, somos apresentados a sua vida pré-marital, marcada por uma doce amizade com Serguei Mikhailovich — uma presença constante e reconfortante, apesar da diferença de idade que os separa. A história se desdobra em duas partes distintas, como se fossem dois atos de uma peça, cada um revelando as diferentes facetas do amor. No início, é como se estivéssemos flutuando em um sonho, testemunhando o florescer de um amor entre Márya e Serguei, tão puro e radiante que parece desafiar a própria realidade. Tolstói, com seu toque único, pinta essa fase com cores vivas de alegria e paixão, capturando a essência embriagadora do amor juvenil. Mas como em qualquer sonho, vem o despertar. A segunda parte nos arrasta para um território mais sombrio, onde as sombras da desilusão começam a se insinuar na vida conjugal de Márya. O tempo, esse artesão de mudanças, começa a revelar as fissuras no idílio, expondo as diferenças que se alastram entre ela e Serguei. O que antes era um amor inquestionável, agora é um campo minado de desafios e sacrifícios, cada passo uma dança delicada entre o amor e a perda. Através da evolução de Márya, Tolstói não apenas narra uma história, mas desdobra um estudo profundo sobre a essência da felicidade conjugal. Ele nos mostra como as expectativas podem distorcer a realidade, como as circunstâncias podem remodelar nossos laços e como, no final, é a evolução de nossas relações que define a verdadeira essência do amor. Escrito por Cristina Ruffino. "O Eterno Marido" de Dostoiévski é uma obra intrigante que mergulha nas profundezas da psique humana. Com maestria, o autor desvenda os dilemas da moral e as repercussões de nossos atos. Combinando suspense, drama e uma pitada de ironia, Dostoiévski aborda questões como ciúme, mágoa e a intrincada teia das relações humanas. A narrativa se desenrola ao redor de três figuras centrais: Velchaninov, marcado por seus mistérios e tormentos; Trusotsky, o 'eterno marido', cuja obsessão beira o patético; e Nastassya, cuja presença é sentida ao longo da história, apesar de sua morte. O desenvolvimento do enredo nos convida a refletir sobre a culpa, a possibilidade de redenção e o passado persistente que nos assombra.
O título "O Eterno Marido" serve como uma metáfora para a repetição de padrões de comportamento e relacionamentos, sugerindo que nos tornamos perpetuadores de nossas próprias neuroses. Adotando uma perspectiva bakhtiniana, podemos apreciar o dialogismo da obra, a ideia de que cada diálogo é uma interação de múltiplas vozes, perspectivas e contextos. A história é tecida com diálogos ricos e tensos, revelando uma complexa dinâmica de rivalidade, ciúme e dependência. Essas interações desvendam camadas de significados, com personagens que trazem suas histórias e visões únicas, construindo uma trama de relações dialógicas que enriquecem a narrativa. A obra também explora o conceito de carnavalização, a subversão das hierarquias sociais e convenções por meio do humor e da paródia. Este aspecto questiona e inverte as relações de poder, provocando no leitor uma sensação de surpresa e reflexão. As interações entre os personagens evocam um teatro do absurdo, onde as normas sociais são desafiadas, expondo a fragilidade e arbitrariedade das conexões humanas. Em suma, "O Eterno Marido" é uma análise rica e multifacetada da condição humana, um estudo que continua a desafiar e a fascinar leitores pela sua complexidade e relevância atemporal. Escrito por Aglaia Ruffino Jalles da unboundededu.com Desde o início da pandemia de COVID-19, nossas vidas foram profundamente transformadas. Fomos obrigados a nos distanciar, a adotar o isolamento social e a compensar como nos relacionamos com o mundo. No entanto, à medida que a vacinação avançou e a situação se estabilizou, surgiu uma nova fase: a socialização pós-pandemia! Um novo valor para as conexões A pandemia nos fez perceber o valor inestimável das conexões humanas. Durante meses, enfrentamos a solidão e a separação, tornando-nos mais conscientes da importância do contato humano. Agora, à medida que começamos a nos reconectar com o mundo, essas conexões ganham um significado mais profundo. A interação nos incentiva a não apenas abraçar os momentos pessoais, mas também a apreciar cada encontro, seja com amigos antigos ou com pessoas que conhecemos pela primeira vez. A alegria de simplesmente compartilhar um café ou caminhar juntos no parque se torna uma experiência mais valiosa do que nunca. Enfrentando o Desafio da Ansiedade SocialNo entanto, a socialização pós-pandemia também vem com os seus desafios. Para muitos, a ansiedade social se intensificou durante o período de isolamento. Sentir-se desconfortável ao interagir com os outros ou temer aglomerações tornou-se uma experiência comum. Por isso, ao passo que nos reconectamos, é vital ser gentil consigo mesmo e com os outros. O respeito pelos limites individuais e a compreensão das diferentes velocidades de adaptação à socialização são cruciais. É um momento de reencontro e renovação. Valorizamos mais as conexões humanas, enfrentamos desafios com empatia e buscamos um equilíbrio saudável em nossas vidas. Enquanto navegamos por este novo capítulo, lembramos que a força da humanidade está em nossa capacidade de nos adaptar, crescer e apoiar uns aos outros!
Escrito por Aglaia Ruffino Jalles da unboundededu.com O crescimento dos laudos nas escolas: o que Isso significa para os alunos? No cenário educacional atual, uma característica tem se destacado de maneira significativa: o aumento do número de laudos, de uma forma geral, para jovens alunos em contextos escolares. Mas afinal, o que isso significa e como isso está afetando a educação e o desenvolvimento dos jovens alunos? Neste post, exploraremos essa tendência e discutiremos suas implicações. O que são laudos escolares? Primeiramente, é importante entender o que são os laudos. Esses documentos são geralmente elaborados por profissionais da área da saúde, como psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e médicos, e têm como objetivo identificar possíveis necessidades especiais ou dificuldades de aprendizagem. Eles podem identificar questões como autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outros. O aumento dos laudos: uma tendência emergente Nos últimos anos, observamos um aumento notável na emissão de laudos médicos para jovens em idade escolar. Existem várias razões para essa tendência. Uma delas é uma conscientização crescente sobre as diversas necessidades dos jovens alunos, o que leva a uma busca mais ativa por ajuda e suporte para garantir que todos tenham igualdade de oportunidades na educação. Além disso, as escolas estão se tornando mais inclusivas, buscando acomodar as diferentes necessidades de seus alunos. Isso resulta em uma maior demanda por avaliações que podem direcionar estratégias de ensino individualizadas. As implicações para os jovens alunos e a educação O aumento dos laudos escolares tem implicações significativas para os alunos e para o sistema educacional como um todo:
Em contrapartida, o aumento dos laudos também traz desafios. É crucial evitar a medicalização excessiva da educação, onde todas as diferenças são rotuladas como "problemas"; tornando-se estereotipias. Ao invés disso, é importante ver cada criança como única, com suas próprias habilidades e desafios, sem taxação e assumi-la como um “bode expiatório” (considerá-la como fora do padrão social e educacional). Todo aluno terá necessidades específicas, com ou sem transtornos mentais. Alguns serão mais agitados e outros mais calmos, alguns serão mais facilmente motivados do que outros, e é dever do professor e da escola atender a essas necessidades na medida do possível. Se um aluno parece desinteressado ou está com dificuldade em seu aprendizado, é importante que o professor investigue e reflita sobre a situação para que encontre caminhos que funcionem melhor para aquele aluno específico. O professor não deve tomar essa responsabilidade sozinho, claro, a escola deve oferecer o suporte necessário para que o professor possa atender a todos os alunos, por mais diferentes que eles sejam. Um laudo médico pode ajudar alunos a receberem o suporte adequado que necessitem, porém, sozinho, o laudo médico não muda a realidade da sala de aula. O aluno com dificuldades de aprendizagem precisa da atenção e reflexão do professor e da escola para que mudanças ocorram. De fato, o laudo médico é o próximo passo a ser tomado depois que mudanças já foram feitas na sala de aula ou em relação a um aluno específico e estas não foram efetivas e o aluno continua a mostrar dificuldades. Além disso, o processo de solicitação e de testes para o laudo médico é muito delicado e, se não é feito de maneira sensível e cuidadosa, pode levar o aluno a construir uma ideia negativa de si mesmo, o que pode gerar ainda mais dificuldades e problemas no seu aprendizado. Durante o processo, o aluno, sobretudo crianças e adolescentes que ainda estão desenvolvendo sua personalidade e seu senso de si, pode criar uma narrativa de si como alguém que não aprende, que não é inteligente, que é bagunceiro, e tal narrativa pode levar o aluno a intensificar ainda mais estes comportamentos. Assim, o processo para adquirir um laudo médico deve ser feito de maneira muito delicada, com acompanhamento psicológico para o aluno e muito suporte por parte de professores, família e profissionais de saúde para que este não se torne mais um problema na vida do aluno. Portanto, os laudos podem melhorar a qualidade da educação e garantir que todas as crianças tenham a chance de atingir seu potencial máximo. No entanto, é fundamental que o sistema educacional mantenha o equilíbrio, evitando a estigmatização excessiva e garantindo que cada criança seja vista como única. O objetivo final é criar um ambiente educacional que seja inclusivo e que capacite todas as crianças a prosperar, além de promover a formação e o apoio contínuo aos professores!
Escrito por Cristina Ruffino.
John Gottman é um grande estudioso de relacionamentos amorosos heterossexuais. Ele foi quem chegou a uma razão de 5/1 para o equilíbrio entre interações positivas e negativas em relacionamentos estáveis e felizes (seja lá o que quer dizer "felizes"!!). De acordo com suas pesquisas, para cada interação negativa, deve haver pelo menos cinco interações positivas. Isso significa que as expressões de afeto, atenção e apoio devem superar significativamente os momentos de tensão e desacordo para manter um relacionamento saudável. Ele também formulou os "Sete Princípios para Fazer o Casamento Funcionar", quais sejam: 1. Aprimorar o mapa amoroso: que se refere a cada um ter interesse e buscar conhecer detalhes da vida do seu parceiro, desde os fatos básicos de sua história até seus sonhos atuais, preocupações e esperanças para o futuro. Buscar conhecer o que seu/sua parceiro(a) gosta, o que não gosta, as histórias da infância dele(a), o que ele(a) quer para o futuro... tudo! Quando estamos enamorados fazemos isso de forma natural, podemos ficar horas ouvindo o outro. O que será que no decorrer da relação nos faz pensar que já conhecemos? Como podemos (re)adquirir e trazer para a relação a curiosidade inicial. 2. Nutrir a afeição e a admiração: ou seja, cultivar o respeito e a apreciação pelo seu(sua) parceiro(a), vendo-o de uma maneira positiva em vez de se concentrar nos defeitos. Em outras palavras, "ser fã número um do(a) seu(sua) parceiro(a)". É como ser torcedor convicto de um time, mesmo quando o nosso time joga com outro muito mais forte, não deixamos de estar presente, torcendo, vibrando e dando apoio. Olhe para o seu amor e relembre as características que te encantaram, elas ainda estão presentes, diga isso a ele(a). 3. Voltar-se um para o outro: que em ações significa responder positivamente aos pedidos de atenção, afeto e apoio do(a) seu parceiro(a), em vez de se afastar ou responder negativamente e com intolerância. 4. Deixar-se influenciar: ter uma atitude aberta para as ideias e sentimentos do seu parceiro e estar disposto a comprometer-se e aceitar a influência deles. Uma metáfora boa para isso é "sejam um time", tem horas que ele(a) te passa a bola para você fazer o gol e tem horas que você pode passar para ele(a) chutar para o gol. Qualquer um dos dois podem errar, mas estarão juntos para lidar com a vitória ou a derrota. 5. Resolver os problemas solucionáveis: aprender a diferenciar a qualidade dos problemas, bem como, identificar os problemas que podem ser resolvidos por vocês, além de desenvolver as habilidades para lidar com eles de maneira eficaz. Existem problemas que não são solucionáveis com os recursos de vocês naquele momento, é possível ficar bem com isso? 6. Superar o impasse, ou "aprender a dançar na chuva": que se refere a adotar uma abordagem construtiva para lidar com problemas perenes ou recorrentes, e aprender a dialogar sobre eles com respeito. Se tem algo que sempre vira briga e vocês não encontraram uma forma de mudar, pode ser melhor aprender a lidar com isso do que ficar batendo cabeça. Não é ignorar, mas sim encontrar um jeito de conviver com essas diferenças. 7. Criar um significado compartilhado: desenvolver um entendimento mútuo dos valores e rituais de conexão que constituem a visão do casal para o futuro e a vida que desejam construir juntos. Pode ser desde planejar uma viagem juntos até construir sonhos e planos do que querem realizar como casal. Criar rituais simples do dia a dia é uma forma de unir o casal e dá um sentido maior para estarem juntos. No fundo, estes princípios de Gottman são sobre o casal se conhecer profundamente, mostrar respeito e admiração, estar presente e responder às necessidades do parceiro, trabalhar juntos, resolver o que é possível, aprender a aceitar o que não pode ser mudado, e criar uma vida juntos com significado e propósito compartilhados. Nenhum é novidade, mas é sempre bom nos lembrar, não é? Escrito por Cristina Ruffino.
A psiquiatria interpessoal e a neurociência têm nos oferecido muito material para compreendermos o cérebro do adolescente e, com isso, ampliarmos as possibilidades de significar e entender seus comportamentos e emoções para além do déficit ou de uma comparação com um cérebro adulto. Dizer o que ele não é, não o ajudará a se tornar o que pode ser de melhor. A adolescência é um período de profunda remodelação cerebral. Durante esta fase, o cérebro passa por um processo de "poda" neural, onde conexões sinápticas menos usadas são eliminadas, tornando o cérebro mais eficiente. Esse é um processo e, enquanto tal, toma tempo e precisa de ajustes. O córtex pré-frontal, que está envolvido no planejamento, tomada de decisões e modulação das emoções, ainda está em desenvolvimento durante a adolescência. Isso pode explicar a propensão dos adolescentes a comportamentos impulsivos e a dificuldade em prever as consequências de suas ações. O espanto é ver que muitos adultos parecem seguir assim pelo resto da vida!!! Concomitantemente à formação do córtex pré-frontal, há um aumento na busca por novas experiências. Isso é atribuído a mudanças no sistema de recompensa do cérebro, que podem impulsionar os adolescentes para novidades, aventuras e, às vezes, comportamentos de risco. Uma forma dos pais ajudarem é apoiando a busca por novas experiências de forma segura e construtiva. Isso inclui encorajar hobbies, interesses e amizades saudáveis. Ao mesmo tempo em que podem encorajar os jovens a enfrentar desafios e a desenvolver habilidades de resolução de problemas, aumentando assim sua resiliência e confiança. Neste momento de vida, há também uma aceleração da "integração cerebral", ou seja, desenvolve-se a conexão de diferentes partes do cérebro. Uma melhor integração cerebral durante a adolescência pode levar a uma saúde mental e emocional mais sólida. Os pais podem oferecer modelos de comportamentos saudáveis, incluindo a regulação emocional, o respeito nas interações e o cuidado com a saúde mental e física. Neste período, os adolescentes são particularmente sensíveis às influências sociais e emocionais, o que está relacionado à atividade intensificada no sistema límbico, a parte do cérebro envolvida na regulação emocional. Os pais favorecem este processo na medida em que se comunicam de maneira aberta e empática, evitando julgamentos e críticas. Tentar ouvir e entender a perspectiva do adolescente é uma forma de ajudá-lo a se ouvir e se entender também 𛰃 ouvi-lo, essa é uma grande ferramenta. Este é um período da vida em que é extremamente necessário a conexão emocional, a expressão de amor e o apoio. A conexão emocional não implica em restringir o ambiente dele ao ambiente doméstico. Ele precisa de independência como instrumento de amadurecimento. Independência não deve ocorrer sem o estabelecimento de limites claros e consistentes para a segurança e o desenvolvimento dele. Assim, os limites devem ser equilibrados com a concessão de autonomia apropriada. Como ferramenta de autoconsciência, regulação emocional e empatia, a prática de mindfulness (atenção plena), tai chi, yoga, podem ser aliadas de toda a família. Adolescência é uma fase maravilhosa e cheia de desafios e podemos usufruir deste momento único aprendendo com eles. Escrito por Cristina Ruffino.
O desafio dos relacionamentos à distância é uma experiência complexa e emocionalmente intensa, é uma dança delicada de amor, paciência e tecnologia, onde espera-se que os corações se encontrem, ainda que separados por milhas. Em um mundo cada vez mais globalizado e conectado, os casais se encontram navegando nas águas turvas da distância, onde a proximidade física dá lugar a uma conexão digital. O relacionamento à distância, exige que os envolvidos possam manter um vínculo emocional e confiança mútua, apesar da separação física. A comunicação constante através de tecnologias digitais como mensagens, chamadas de vídeo e e-mails desempenha um papel crucial, atuando como uma ponte que os une. Contudo, essa separação pode trazer desafios adicionais, como a sensação de solidão que um dos parceiros pode experimentar. Este sentimento de solidão pode intensificar as inseguranças e criar mal-entendidos, tornando a comunicação e a confiança ainda mais fundamentais. Encontros presenciais são momentos preciosos e intensos, valorizados por ambos, enquanto a distância física pode também promover um crescimento pessoal e independência. Quando há filhos envolvidos, aquele que fica com os filhos a maior parte do tempo pode se sentir sobrecarregado e sem ter com quem dividir os cuidados diários, trazendo para a relação cobranças e queixas. Apesar dos desafios, como a solidão e a saudade, relacionamentos à distância podem fortalecer os laços emocionais e demonstrar a resiliência do amor, ou, ao contrário, podem levar o casal a questionar se vale a pena estar junto. Neste caso, conversas francas precisam ser feitas. Escrito por Cristina Ruffino.
Constantemente estou com pais e filhos adolescentes e as queixas de ambos os lados se repetem e parecem que se retroalimentam uma da outra. O filho(a) com a queixa: "meu pai / minha mãe não param de implicar"; o pai / mãe dizendo: "não sai do quarto, não conversa, não estuda, não corta o cabelo, não acorda, bebe muito, não atende o celular…". Muitas vezes ofereço para o(a) adolescente a pergunta: "como você pode ajudar seu pai /sua mãe a pararem de implicar já que isso te incomoda?". Eles são muito diretos e claros: "fazendo a coisa certa". Então podemos começar a ver o que eles entendem que seria "a coisa certa". E o diálogo vai nos ajudando a diferenciar, de forma lenta e conjunta, "a coisa certa" do que pode ser: um costume da sociedade, uma forma preferida de alguns grupos, desejos ou preferências dos pais; certo para quem e quando? Na medida em que estas diferenciações podem ser examinadas, é possível posicionar-se frente a cada uma delas e assumir responsabilidades possíveis a partir de um lugar de autor dos seus atos, e não de pura obediência. Pois é justamente que eles estão buscando, serem autores. Neste processo de diferenciação os pais também podem perceber que unhas pintadas de preto ou francesinha expressam um gosto pessoal, muito provavelmente mutável ao longo do tempo e socialmente compartilhado com um grupo de pertencimento e que isso não define o caráter do filho(a). Cabelo azul ou rosa tão pouco diz sobre escolhas futuras do filho. Feita a distinção, os pais podem perceber que nem todos os comportamentos e atitudes exigem intervenção. Eles podem se concentrar em questões de segurança, saúde e escola e deixar questões "menores" (como preferências de moda, escolhas musicais ou cor do cabelo) como espaço de exercício para o desenvolvimento da identidade e autonomia. Focar nas questões mais críticas pode ser mais eficaz e alivia a relação de tantos conflitos. Quando focamos em questões críticas, podemos criar um nível de compromisso e estabelecimento das formas em que aquilo será verificado, ou seja, usamos de parâmetros mais objetivos relacionados às metas traçadas. O que permitirá que aquele que tem um determinado desafio a cumpri-lo, é dar visibilidade para suas conquistas, de forma que ele se sinta reconhecido também pelo que consegue fazer. Me lembro bem de uma família que comecei a acompanhar nas férias de julho. A questão trazida como problema era a filha adolescente não estar estudando, ter ficado com quase todas as notas vermelhas no primeiro semestre. A decisão dos pais estava tomada: "ou estuda ou vai para a escola pública porque não investiremos em escola se não tiver esforço da parte dela". Através do diálogo foram definindo uma rotina, tempo de estudo, acordaram em tirar as saídas com amigos durante a semana e delimitou-se o tempo de uso de celular. A adolescente foi cumprindo cada um destes acordos, quando o boletim do terceiro bimestre chegou: tudo azul, notas entre 8,3 e 9,5. Ai a mãe diz: "ah, mas ela estuda emburrada". E ai entra a tal da distinção: o que foi definido como obrigatório foi o estudo. Se seria de cara boa ou emburrado, poderia ser uma escolha da adolescente. Percebem que se a cada meta alcançada vem um "mas não escovou o dente", "mas não quis ir no aniversário do primo", o adolescente estará constantemente sobre reprovação dos olhos insatisfeitos dos pais e isso não ajuda na conexão e no pertencimento. Me parece que os adolescentes que conseguem passar melhor por esta fase delicada da vida são aqueles que podem contar com o reconhecimento e presença dos pais nas suas "vitórias" cotidianas, isso oferece a eles um parâmetro do tamanho dos sonhos que podem sonhar. |
Cristina RuffinoSou Pedagoga (Unicamp), Mestre em Psicologia (Unicamp), doutora em Psicologia pela USP-RP. Arquivos
Dezembro 2024
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